Executivos da empresa estão no Brasil para explicar criptografia ao STF, após série de bloqueios. Sistema protege dados pessoais, argumentam eles; Justiça quer acesso para investigar crimes.

Ícone do Whatsapp, um dos aplicativos de conversa mais populares do mundo, é visto na tela de um smartphone / Foto: Fábio Tito/G1

No meio do dia, casualmente, você resolve mandar mensagem para um amigo pedindo dicas de viagem. Instantes depois, propagandas sobre aquele mesmo destino começam a pipocar na tela, e a cena ganha contornos de filme policial: afinal, você estava sendo espionado o tempo todo? Segundo os criadores e diretores do WhatsApp, não há motivo para pânico: o que aconteceu foi "mera coincidência".

"Como as mensagens são criptografadas, não há nenhuma forma de escanear o texto para te direcionar algum anúncio. Então, é meramente uma coincidência", afirmou ao G1 o diretor de comunicações e porta-voz do WhatsApp, Matt Steinfeld. Ele faz parte da comitiva que está no Brasil, nesta sexta-feira (2), para explicar esse sistema de segurança ao Supremo Tribunal Federal (STF).

"Você fala no WhatsApp sobre coisas que te interessam, que interessam à sua rede de amigos. É compreensível que, ao usar serviços virtuais com propaganda direcionada, eles tentem e consigam adivinhar que você está interessado em um filme, ou uma viagem."
 
Conversa com o Supremo
 
A criptografia dessas informações será o principal assunto da audiência pública marcada para esta sexta no STF, em Brasília, mas por outro motivo. Nos últimos dois anos, o aplicativo sofreu três bloqueios no país – determinados por juízes de primeira instância que tentavam obter dados de mensagens para subsidiar investigações.

As explicações serão dadas aos ministros por um dos criadores do aplicativo, o norte-americano Brian Acton. Em conversa com o G1 e com a GloboNews, nesta quinta (1º), o executivo antecipou um resumo dos argumentos que serão apresentados.

A criptografia "ponta a ponta" utilizada pelo WhatsApp, segundo ele, transforma cada mensagem em um código que não pode ser interceptado, e só é decifrado quando chega ao celular do destinatário.

"E isso significa que ninguém pode ler. Nem o WhatsApp, nem o Facebook, ninguém. Nem [os governos de] Estados Unidos, ou Brasil. Nem os países, nem as companhias. Isso cria um sistema que protege a segurança e a privacidade dos usuários", diz Acton.

A criptografia se restringe ao conteúdo das mensagens e, por isso, existem dados que o WhatsApp armazena e consegue compartilhar com a Justiça. "Alguns metadados, nós coletamos e guardamos. Por exemplo, os endereços de IP. Nós guardamos por seis meses, e trabalhamos com os órgãos de segurança do país, quando necessário", explica.

Proteção estratégica
 
Com 120 milhões de usuários ativos no último mês, o Brasil é o segundo maior mercado do WhatsApp em todo mundo – atrás apenas da Índia, e na frente dos Estados Unidos. Além do fator simbólico, o bloqueio do aplicativo no país representa perdas financeiras significativas para a empresa.

Responsável pela comunicação institucional do WhatsApp em todo o mundo, Matt Steinfeld diz reconhecer que há um "temor público" sobre a segurança de dados na internet. No último dia 12, o vírus de resgate WannaCry aproveitou uma única brecha de segurança para afetar sistemas públicos e privados em todo o mundo.

"Há uma sensação [de risco constante], e as pessoas estão cada vez mais interessadas na segurança das informações. Entendemos que há necessidade de regulações nacionais, e que o Brasil tem boas leis na área de tecnologia. O que precisamos assegurar é que essas leis sejam baseadas em um bom entendimento de como as tecnologias funcionam", diz Steinfeld.

"É precisamente por isso que a criptografia é ótima. Se alguém hackear os servidores do WhatsApp, nós não temos o seu histórico guardado. Nem antes, nem depois que as mensagens são entregues."