Cientistas descobrem como gritos geram sensação de medo e estado de alerta

O grito, além de exteriorizar emoções de quem o solta, provoca alarde em quem o escuta. Os efeitos no cérebro desse compartilhamento de sensações foram descobertos por cientistas dos Estados Unidos e da Suíça, e divulgados na edição desta semana da revista Current Biology. Segundo eles, esse tipo de som começa ativando os canais auditivos e chega à amígdala, grupo de neurônios ligados à regulação de sentimentos, incluindo o medo, a paixão e a agressividade. Por isso, um barulho estridente, como um alarme de relógio, é tão difícil de ser ignorado.

A vontade de estudar o efeito do grito no cérebro humano surgiu após Luc Arnal, autor principal da pesquisa, ouvir a reclamação de um colega. “Comecei a me interessar pelos gritos quando um amigo me disse que o som de seu filho recém-nascido literalmente sequestrava o cérebro dele. Perguntei-me o que fazia com que o som fosse um ‘alarme’ tão eficiente”, explicou ao Correio o pesquisador da Universidade de Genebra.

Para sanar a dúvida, Arnal e a equipe liderada por ele selecionaram trechos retirados de vídeos divulgados na internet, de filmes populares, além de gritos emitidos por voluntários em cabines de som do laboratório. Participantes ouviram as gravações enquanto eram submetidos a uma tecnologia de monitoramento cerebral avançada. “Usando o método de neuroimagem de ressonância magnética, observamos que o grito, assim como os alarmes artificiais — as campainhas, por exemplo —, aumenta a ativação da resposta de medo na amígdala humana, que está envolvida no processamento de perigo e na aprendizagem do medo”, detalha o autor principal.

Os pesquisadores acreditam que essas constatações mostram o quanto esse tipo de som pode ser explorado como um sinal de alerta, já que ele pode avisar ao cérebro da existência de um perigo iminente. “Os gritos são realmente eficientes em fazer isso. Por exemplo, os gritos ásperos são localizados mais rápido e de melhor forma pelos circuitos cerebrais do que a voz”, completa Arnal.