Margem de lucro de até 100% em cima do valor e ainda falta de bois também ajudam a compor preço da carne e majorar custos.

China leva fama pela alta da carne, mas seca e lucro são os vilões
Falta de bovinos no pasto por conta da estiagem puxou os preços da carne. / Foto: Reprodução

A disparada nos preços das carnes bovina, suína e de frango de 30% em média somente na Capital e até 50% no País,e não é culpa apenas do “apetite chinês”. A seca que reduziu o volume de animais para o abate, a supervalorização do dólar que torna o mercado externo mais atraente para venda e até principalmente a prática de uma margem de lucro abusiva que pode chegar a 100% de ganhos em cima do produto são as grandes vilãs desta majoração.

De acordo com o analista pecuário Júlio Brissac, da Ruralbusiness, a prática de uma margem de lucro elevada sobre a carne por parte dos atacadistas tem um peso muito grande na composição dos preços. “Dependendo dos cortes, como é o caso do traseiro, a margem de lucro pode chegar a 100%, enquanto em outros países como nos EUA gira em torno de 30%. Sabemos que a tributação aqui pesa sobre a indústria, mas ninguém quer conversar sobre a margem de lucro, que é absurda ”, destaca.

Segundo ele, a formação do preço do boi no frigorífico é uma verdadeira “caixa preta da pecuária”. “Estamos na era digital e as informações sobre a pecuária dentro e fora do frigorífico parecem estar no lápis e papel”, destaca fazendo alusão à dificuldade de ter acesso as planilhas das indústrias no quesito de valores. “Tem frigorífico que vende até 80% de sua produção para mercado externo. Ou seja não estão preocupados com o mercado interno”, critica o analista que considera um descaso por parte da indústria com o consumo interno de carne.

Queda - O presidente da Associação de Matadouros, Frigoríficos e Distribuição de Carnes de MS (Assocarnes) MS Sérgio Capucci destaca que existem três partes neste processo: produtor, indústria e açougue e o mercado e o consumidor. “Quando o preço do boi está subindo quem ganha é o produtor e a indústria e o açougue, quem mais perde é o consumidor final”, detalha. Capucci alega que a alta nas cotações foi puxada principalmente pela escassez de bois no País. “Na composição de custos da arroba a exportação para a China representaria uns 30% e os outros 70%,seria de baixa oferta de gado, diante da seca prolongada deste ano”, afirmou.

Ele lembra que em todo este período de alta foi positivo para o produtor e a indústria. Porém ele justifica que os preços já estão começando a baixar. “Neste momento o mercado já sinalizou que começa um movimento de baixa. O boi que estava cotado a R$ 220 a arroba já está com menores preços de R$ 205 e muitos frigoríficos estão com as compras paradas por não conseguirem vender sua produção”, acrescentou.