Na versão dos presos, os policiais do Batalhão de Choque agiram com violência “desnecessária”

Carta de presos da PED denuncia falta de atendimento médico após conflito

Internos do Pavilhão II da PED (Penitenciária Estadual de Dourados) voltaram a denunciar a administração da unidade e também o Batalhão de Choque neste sábado (22). Através de uma carta, os presos relatam as agressões e a falta de atendimento médico aos feridos durante uma operação pente-fino realizada na manhã de quarta-feira (18).

A carta, enviada por parentes dos internos ao Campo Grande News, relata que cerca de 60 presos foram feridos na operação, passaram pelo primeiro atendimento no setor médico do presídio, mas depois não receberam nenhum cuidado. Conforme a denúncias, os presos que tiveram fraturas, por exemplo, não passaram por exames de raio-x ou atendimento adequado.

“Cerca de 60 presos estão com membros fraturados, foram mordidos por cachorros, ou estão com cortes e lesões profundas provocadas por tiros e nenhuma medicação foi oferecida. Essa carta segue será encaminhada ao TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) e posteriormente ao STF (Supremo Tribunal Federal)”, defendeu um dos familiares dos presos.

Ainda na versão dos internos, os policiais entraram no presídio já de maneira agressiva, enquanto muitos ainda dormiam. “Por esse motivo, demorou alguns minutos para os internos alinharem o procedimento solicitado, que é, ficar de cueca, sentados, virados de costa para porta”, escrevem na carta.

Dentro das celas, os policiais teriam iniciado uma série de agressões. “Os internos de outras celas ouvido os gritos de dores e pedido de socorro, e com receio de sofrer agressões físicas também tentaram travar as portas, amarrando cobertores e colchões, buscando o diálogo para cessar as agressões”, escreveram em resposta aos vídeos divulgados em redes sociais, onde os policiais precisam quebrar uma parede de concreto improvisada para entrar nas celas.

Os internos afirmaram ainda que bombas de gás lacrimogêneo foram usadas nas celas, além de feitos vários disparos de bala de borracha, mesmo com os presos já dominados, o que chamaram de tortura. Houve até um “corredor polonês”, onde os presos eram “espancados” com cassetetes, garantem. As agressões já haviam sido denunciadas pelos presos em um vídeo gravado de dentro do presídio.

“Solicitamos juntos aos órgãos competentes um posicionamento adequado, pois todos os presos já estão sob cuidado do Estado, não existe necessidade de atos agressivos e de extrema violência em um simples ato de vistoria, isso pode ser evitado. Porém, por causa do ocorrido solicitamos respostas claras e objetivas da administração do PED, pois são eles que têm o controle da penitenciária e mesmo assim foram apáticas as atitudes do Batalhão de Choque, que vem aqui trimestralmente. Respeitar os nossos direitos e nossa integridade física e mental, conforme a lei determina”.

Palavra da Agepen - Em entrevista à reportagem, o diretor-presidente da Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário), Aud de Oliveira Chaves, explicou que todos os procedimentos para o atendimento dos presos foi respeitado.

Segundo Aud, só depois que o preso passou por atendimento na próxima unidade, é encaminhado para um hospital, ou unidade de saúde conforme a necessidade apontada pelo médico de plantão. “Todos os presos que ficaram feridos foram atendidos, e encaminhados para as unidades de saúde conforme a necessidade. Não deixamos de atender de maneira nenhuma”, defende.

“Inclusive a Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) esteve lá, conversou com alguns presos e não tinha problema nenhum”, reforçou Aud.

O outro lado - Conforme o policiais do Batalhão de Choque, usando facas artesanais e pedras de concreto - retiradas das camas da unidade - os internos do pavilhão II bloquearam o acesso a celas. A intenção, conforme a polícia, era impedir o pente-fino e também a transferência de seis líderes do PCC (Primeiro Comando da Capital).

“Enquanto tentávamos desobstruir a passagem para as celas, eles utilizaram as armas contra nós, principalmente nos pés, onde o escudo não protege”, contou um dos policiais envolvidos na ação. O conflito com os presos começou e armas de impacto controlado, entre elas armamento não letal, mais conhecido como bala de borracha, bombas de efeito moral e cassetete foram usados.

“Usamos o que foi necessário”, defendeu um policial. Em uma das celas, os presos usaram o mesmo concreto da cama, um colchão e a própria porta para “construir” uma barricada. Os policiais precisaram arrombar a porta com um pé de cabra e usar uma marreta para quebrar o concreto e conseguir entrar no local. O vídeo da ação foi enviado ao Campo Grande News.

Os presos também teriam jogado água fervendo nas equipes e chegaram atingir um policial ao arremessar uma pedra nos militares. Com a situação controlada, foram apreendidas diversas facas artesanais e até uma “lança” feita pelos presos. Porções de drogas e seringas também foram encontradas.