Quatro de 15 ministros do Superior Tribunal Militar são favoráveis a soltar acusados por duas mortes em Guadalupe, mas sessão foi suspensa na quarta-feira após pedido de vistas

Carro de músico fuzilado: tenente do Exército fez 77 disparos de fuzil na ação
Parentes de Evaldo se desesperam após carro ter sido atacado por militares: veículo foi atingido por 83 tiros / Foto: José Lucena / Futura Press

Durante o julgamento em Brasília de um habeas corpus para os nove militares do Exército acusados de terem matado a tiros de fuzil o músico Evaldo Rosa e o catador de papel Luciano Macedo, em Guadalupe, no mês passado, foi revelado que o tenente Ítalo Romualdo, que comandava a tropa, atirou 77 vezes na ação. A informação foi revelada pela ministra Maria Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha, do Superior Tribunal Militar (STM), durante julgamento de um pedido de habeas corpus feito pela defesa dos acusados. De acordo com um laudo pericial, elaborado pelo Exército e lido pela ministra, os nove militares, que atualmente estão presos, fizeram mais de 200 disparos com fuzis no dia das mortes.

Desse total, 83 atingiram o carro onde estavam Evaldo e sua família. Eles iam para um chá de bebê quando foram atingidos.

A sessão acabou suspensa devido a um pedido de vista ao processo, mas, antes da interrupção, quatro dos 15 ministros do Superior Tribunal Militar (STM) já tinham votado pela soltura dos suspeitos . A nova sessão deverá acontecer dentro de dez dias. O subprocurador-geral do Ministério Público Militar, Roberto Coutinho, disse, num discurso enfático, que não existe ainda nem mesmo indício de que os soldados e oficiais tenham cometido crime.

Para o subprocurador-geral, os militares estavam no exercício “da função da autoridade”. Eles teriam confundido o veículo do músico com o de bandidos que haviam passado pela região momentos antes. Evaldo, que dirigia o carro, morreu na hora. Luciano, atingido ao tentar socorrer a família, morreu 11 dias depois.

O subprocurador argumentou que não há risco à ordem pública que justifique a prisão dos suspeitos que são, segundo ele, são militares, não criminosos contumazes.

— Não pode a histórica Justiça Militar ceder ao clamor da opinião pública porque esta é sensível ao impacto midiático — disse Coutinho.