Para população ficar em casa, somente serviços essenciais funcionarão em Campo Grande.

Campo Grande paralisa e situação impõe nova rotina
Trabalhadora do comércio cumpriu último dia de expediente. Agora, só isolamento. / Foto: Valdenir Rezende / Correio do Estado

A partir deste sábado (21), a rotina do morador de Campo Grande será de uma maneira nunca antes imaginada. Para fazer com que todas as pessoas fiquem em casa para evitar o contágio e a disseminação do novo coronavírus, o comércio não poderá mais abrir, o transporte coletivo não funcionará mais e casas noturnas e locais de lazer, não podem abrir. Desde sexta-feira, os parques da cidade estão fechados, a circulação em praças públicas não é recomendada e as academias também estão com as portas fechadas.

Os bancos e as escolas estaduais abriram pela última vez antes da paralisação nesta sexta-feira. A partir de hoje, estarão abertos na cidade somente supermercados (palco de uma corrida frenética nos últimos dias), farmácias, lojas de conveniência, postos de combustíveis, revendedoras de gás e de água mineral.  O avanço da contaminação em estados vizinhos, como São Paulo, onde o número de mortes aumenta a cada dia, e as centenas de mortes diárias causadas pela doença nos países europeus, é a justificativa para as medidas tomadas pelo prefeito Marcos Trad (PSD) e pelo governador Reinaldo Azambuja (PSDB).  

Até a noite desta sexta-feira, Mato Grosso do Sul tinha 12 casos da doença confirmados, 11 deles em Campo Grande.  

CIRCULAÇÃO

Na sexta-feira, porém, algumas pessoas ainda transitavam pelo Centro da cidade, na busca das últimas coisas para comprar. Segundo Ronaldo Dourado 34 anos, gerente de uma loja de sapados, muitas pessoas que foram até o local ainda não tinham entendido a gravidade da situação.

“Infelizmente a gente viu muitos idosos hoje na rua, gente que parecia estar de férias. Acho que pelo fato de nunca ter vivido uma situação dessas, muitas pessoas acham que não é verdade, que não tem que se cuidar”, declarou o gerente.

Por outro lado, a loja que Dourado trabalha retirou todas as mercadorias das prateleiras, de acordo com ele, por temer furtos durante os 15 dias que o comércio ficará fechado.  

Apesar da circulação registrada na sexta, muitas pessoas deixaram de ir ao centro e circular no meio de aglomerações durante esta semana. Por causa disso os comerciantes dizem ter sentido uma queda no movimento de cerca de 80%.

“Não está tendo fluxo de gente, hoje mesmo nenhuma loja da nossa rede registrou vendas, apenas aqui que conseguimos vender pouca coisa. A gente já tinha decidido que a partir da semana que vem adotaríamos um revezamento para reduzir o número de pessoas trabalhando, para evitar demissões, mas agora com esse decreto é ir para casa e esperar que quando voltarmos consigamos nos recuperar”, avaliou Carlos Freitas, 37 anos, gerente de uma rede de lojas que vendem capas e acessórios para celular.

PREVENÇÃO

Nas poucas pessoas que insistiam em estar na rua, muitas usavam máscaras e algumas estavam, inclusive, de luvas. “Todo cliente que entra aqui sempre procura o álcool em gel, eu percebo que as pessoas estão preocupadas com essa situação”.

No Centro, até lugares que não são obrigados por força do decreto a estarem fechados, pretendem baixar as portas, como o conhecido Bar do Zé, localizado na rua Barão do Rio Branco. Segundo o administrador do local, Márcio Okama, apesar de não haver a determinação para fechar, a falta de movimentação na região preocupa.

“Vamos ficar aberto só até esse sábado, mas a partir de segunda-feira vou dar férias coletivas para todos os funcionários. Como não vai ficar quase nenhum local aberto, vai ter pouca circulação de pessoas e isso deixa a região perigosa, então não temos como ficar aberto”, explicou Okama.

Para quem trabalha no comércio informal, o jeito é se manter com o pouco de economia que ainda tem. O vendedor de churros Rafael Carlos Rocha, 28 anos, conta que vai tentar encontrar algo temporário, no bairro onde mora, mas se isso não der certo, o jeito vai ser economizar.

“Não tem como continuar vendendo porque não vai ter gente na rua, nem aula tem mais. Vou sobrevivendo com as economias que tenho e tentar um bico na construção civil no meu bairro enquanto isso durar”, lamentou.

CALAMIDADE

A prefeitura também declarou emergência em saúde por conta da expansão do novo coronavírus na cidade, já que a Capital é o principal foco de proliferação da doença no Estado.

O Governo do Estado, por sua vez, decretou e a Assembleia Legislativa aprovou estado de calamidade pública. Com isso, a administração terá maior facilidade em comprar insumos, contratar pessoal e investir em saúde, extrapolando o teto de gastos.