Delegado diz que arma do PM não era registrada: "Essa arma não é da Polícia Militar, ele alegou ter herdado do pai". Defesa diz que PM agiu em legítima defesa.

Câmeras de segurança flagraram briga em cinema que terminou com homem assassinado por PM em MS
Câmeras de segurança captaram briga entre dois homens em sala de cinema de Dourados, que terminou com a morte de Julio Cerveira assassinado por um PM / Foto: Câmeras de segurança/Reprodução

Câmeras de segurança da sala 1 do Cine Araújo no Shopping Avenida Center de Dourados (MS) flagraram o momento que antecede a morte do bioquímico Julio Cesar Cerveira Filho, assassinado pelo PM Dijavan Batista dos Santos na tarde desta segunda-feira (8). Segundo a polícia, a briga começou por conta das poltronas que ocupavam.

Na imagem é possível ver que o Julio está sentado na mesma fileira, ao lado de um dos filhos de Dijavan. Em seguida, o menino troca de lugar e Julio se levanta, aproxima-se do garoto e parece discutir com ele. Depois volta a seu lugar.

Na sequência, ele levanta novamente e vai até uma pessoa sentada ao lado do adolescente, que, de acordo com o boletim de ocorrência, seria o PM, e os dois discutem. Este se levanta. Outras pessoas na fileira da frente levantam também tentando parar a briga. Júlio senta novamente. Em seguida, ele levanta e sai seguido pela filha, passando pelo grupo. O PM vai atrás do homem, momento em que teriam ido até a porta do cinema e entrado em luta corporal, porém as câmeras não captaram a cena. A sequência da imagem já mostra as pessoas na sala levantando e correndo.

A sala exibia o filme "Homem-Aranha-Longe de Casa" e, segundo a polícia, estava cheia de crianças. Julio Cerveira foi assassinado em frente à filha de 16 anos.

Arma usada pelo PM não era registrada
 
De acordo com o delegado Rodolfo Daltro, a pistola .40 que estava com o PM não era registrada:

"Essa arma não é do estado de Mato Grosso do Sul, não é da Polícia Militar, é uma arma que o policial alegou que herdou do pai dele que era militar da reserva e faleceu há cerca de dois anos."
 
A polícia não informou por que o PM estava armado com uma pistola sem registro em uma sala de cinema dentro de um shopping, acompanhado pelos filhos menores. O policial militar estava lotado na divisão Ambiental e está preso no quartel da Polícia Militar aguardando a audiência de custódia marcada para esta quarta-feira (10).

O advogado de defesa de Dijavan, Victor Matos, afirmou ao G1 que pedirá a suspensão da prisão logo após a audiência de custódia. O advogado afirma que o PM alega legítima defesa e que o tiro teria sido acidental.
 
"Ao ir embora a vítima chutou meu cliente, que até então não havia se identificado como policial, passou pelo filho de 6 anos e ao passar por seu filho adolescente desferiu-lhe um soco de cima para baixo que inclusive já foi feito exame de corpo de delito e ele apresenta escoriações. [...] Logo após eles entraram em luta corporal e ele [Dijavan] pediu que parasse com a agressão, e a arma acabou se disparando no momento em que o Dijavan caía na escada do cinema", declara.

Em nota, o tenente coronel da PM Carlos Silva afirmou que o PM ligou para a polícia comunicando o crime: "Ele ligou para o 193 e 190 após o fato informando que seria o autor, aguardou a equipe no local e se apresentou", diz o comunicado. Ele informou que serão instaurados dois inquéritos, um pela Polícia Civil e outro pela Policial Militar.

Filha e esposa não foram ouvidas pela polícia
 
A esposa e a filha de Julio, de 16 anos, não foram ouvidas pela polícia.

O G1 conversou com a viúva que prefere não ter o nome divulgado para preservar a família, especialmente a filha. Ela disse que ambas estão emocionalmente muito abaladas e não tinham condições de prestar depoimento.

O velório de Júlio acontece em Dourados e o corpo deve ser enterrado no final da tarde desta terça-feira (9). 
 
O G1 tentou contato com o advogado da família, Pedro Teixeira Silva, mas até a publicação desta reportagem não obtivemos retorno.

A esposa de Júlio relatou que estava em casa no momento do crime e que o marido havia lhe mandado uma mensagem dizendo que a sala de cinema estava cheia e que houve uma confusão com as poltronas que ele e a filha ocupariam.

Ela chegou a pedir que o esposo voltasse para casa. Após o crime, a filha do casal foi amparada por amigos que estavam no shopping.
 
O advogado do Cine Araújo informou que o cinema está contribuindo com as investigações e que lamentam o ocorrido. Ele disse também que "é impossível que o mesmo ingresso tenha sido vendido para duas pessoas, já que a plataforma do sistema de ingressos não permite e se mesmo assim tivesse acontecido, um fiscal teria tomado a providência antes mesmo da sessão".

A investigação agora segue pela 2° Delegacia de Polícia de Dourados, sob responsabilidade do delegado Francis Flávio. Ele informou ao G1 que a filha e a esposa de Julio serão ouvidas até o final da semana, quando estiverem em condições emocionais de prestarem depoimento.