Cachorros policiais de Dourados ajudam a desmantelar quadrilhas inteiras, bem como a encontrar drogas onde o limite humano não alcança.

Cães heróis reforçam guerra contra o tráfico na fronteira
Cão farejador da PRF / Foto: Divulgação

O melhor amigo do homem também é o melhor amigo da lei na fronteira. Heróis de quatro patas, os cães policiais reforçam a guerra contra a criminalidade em Mato Grosso do Sul, considerado o maior corredor do tráfico de drogas da América Latina. Somente em Dourados, que fica há 120 quilômetros do Paraguai, os cães detectores de drogas das forças policiais são responsáveis pela apreensão de dezenas de toneladas de entorpecentes por ano e por desmantelar quadrilhas inteiras nas operações da Polícia.

Ao contrário do que muita gente ainda imagina, nenhum deles precisa ser viciado para cumprir sua missão. Os cachorros policiais não têm acesso e nem consomem drogas. O contato é apenas com uma essência, com odor da droga. O que acontece é a associação do cheiro específico a uma recompensa, que pode ser o brinquedo favorito do cão.

Tudo isso é possível graças ao olfato, que é o sentido mais desenvolvido nos cães. Estudos apontam que enquanto os seres humanos contam com cerca de 5 milhões de células olfativas, os cães possuem uma média de 200 milhões. Essa característica facilita muito a identificação de itens suspeitos em quaisquer tipos de investigação. A relação entre os animais e os agentes é de carinho e confiança.

Treinados na 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada – Brigada Guaicurus, cinco cães de guerra em Dourados, auxiliam a Polícia do Exército em duas situações: faro de entorpecentes e busca e proteção (ataque). Eles são da raça Pastor-Belga-Malinois (pronúncia: Malinoá), Pastor Alemão e Labrador.

K-9 Marlei e K-9 Duque são cãezinhos, ainda filhotes que estão em fase de adestramento básico. Após 1 ano e meio estarão preparados para atuar com a Polícia do Exército. Já aK-9 Indra atua no faro de entorpecentes, enquanto o K-9 Greg e o K-9 Gi foram treinados para a busca, captura e proteção, modalidade que serve para o controle de distúrbio civil, como em grandes manifestações, por exemplo. Outra situação é que o cão recebe treinamento para atacar caso esteja sendo revistado por militares e tenta fugir.

O 2º sargento Noronha é o comandante da sessão de Cães de Guerra da 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada. Ele explica que o setor existe desde 2012 e de lá para cá a equipe de militares realizou qualificações específicas para treinar os cães. Mas, apesar de todo o preparo, ele assegura que para atuar naquele setor é preciso cumprir um requisito importante: o de ter amor e respeito pelos animais. "Muitos dos que estão nessa sessão têm cachorro em casa, o que é uma demonstração a mais de que podem conviver e trabalhar com eles", destaca.

O treinamento começa pela manhã, em

que a equipe avalia as condições físicas dos cães. È realizada a limpeza nos boxes, há alimentação, treinamentos específicos dependendo da habilidade do cão e descanso. O tempo médio de treinamento até o cão estar apto a atuar com a polícia é de 1 ano e meio. Os cães de guerra do Exército sentam e indicam o local em que se encontra a substância.

Eles atuam em praticamente todas as operações da corporação e dão apoio a outras forças policiais, quando requisitados para operações no Terminal Rodoviário e rodovias, por exemplo. Eles também atuam na repressão interna como revistas em todas as unidades da 4ª Brigada. Usam colete com a denominação PE (Polícia do Exército) e o nome do animal.

O capitão Eduardo, que faz parte da equipe da Sessão de Cães de Guerra, explica que geralmente os cães se aposentam dependendo das suas condições físicas. Ele disse que nenhum cão chegou nessa condição até o momento, mas que pretende homenageá-los com galerias de fotos na Brigada quando tiverem que ser doados.

A equipe responsável pelos cães do Exército são: o comandante 2º sargento Noronha, os cabos: Alves e Sobrinho, os soldados Lopes, Dias, Eduardo e o capitão Eduardo Melo.

POLÍCIA FEDERAL

O Canil Regional da Delegacia de Polícia Federal em Dourados existe há oito anos. Atualmente conta com dois cães policiais altamente treinados: o K-9 Cedrik, Pastor Alemão (preto) e a K-9 Golden, pastora Belga Malinois (lê-se Melinoá). Até há poucos meses atrás, o canil contava com a ajuda da K-9 Siba de oito anos, que recentemente se aposentou. Os cães da PF recebem comandos em alemão e, em Dourados, são detectores de drogas. Eles ajudam na fiscalização de pessoas, bagagens, ambientes fechados como casas, comércio, além de ambientes abertos como as áreas rurais.

Todos esses trabalhos são realizados em barreiras policiais nas rodovias, Aeroporto, Rodoviária e no cumprimento de mandados de busca e apreensão, bem como nas atividades de fiscalização preventiva e repressiva.

Os agentes da PF que trabalham com os cães policiais, dizem que a ajuda dos animais é de fundamental importância para casos mais complexos, como a apreensão ocorrida em 2011 em Coronel Sapucaia. Na ocasião uma carreta carregada com banquinhos de madeira transportava mais de 7.5 mil quilos de maconha. Em 2013, com a ajuda de cães policiais os agentes encontraram 706.6 quilos de maconha escondidos em local de difícil acesso dentro de um fundo falso em uma máquina agrícola. Para os federais, os cães também agilizam o tempo nas fiscalizações.

A preparação dos animais para a detecção de drogas acontece no Canil Central da Polícia Federal em Brasília. Lá existem dois tipos de treinamento o de cão detector de drogas e o detector de explosivos. Nesse espaço, todos os animais são treinados para o trabalho e, só depois de prontos, são enviados aos outros estados. Há 12 canis em todo país.

Na Polícia Federal, os cães são treinados para achar a "caça". Para isso todos os dias eles são estimulados através da montagem de circuitos que simulam o que eles vão encontrar durante as fiscalizações. Eles farejam e indicam a maior fonte de odor. O treinamento começa quando o cão é filhote, com cerca de 45 dias e demora cerca de dois anos para que ele seja considerado apto para atuar como cão policial nas ruas. Pela instrução normativa da PF, com sete anos o cão já pode se aposentar, mas para isso são feitas avaliações físicas e técnicas para saber se ele ainda está em condições de continuar trabalhando.

Quando o cão se aposenta é dado prioridade ao policial instrutor adotá-lo, que também pode indicar alguém para cuidar do animal. Uma terceira hipótese é a destinação do cão para algum órgão público. Os primeiros cães da Polícia Federal são fruto de um convênio com o governo dos Estados Unidos, em 2006, que garantiu a doação de 93 cães para a Polícia Federal, ao custo de 10 mil dólares cada. Foram chamados de "green dogs", animais sem treinamento policial. Os animais eram doados pelos Estados Unidos e treinados no Brasil. Desde 2015, todo o processo é feito no Programa de Reprodução no Canil Central da PF em Brasília.

PRF

Na Polícia Rodoviária Federal (PRF) existe o Grupo de Operações com Cães (GOC) que age nas rodovias federais e locais de interesse da União empregando cães de trabalho no enfrentamento ao tráfico de drogas, armas, munições e ainda na segurança dos grandes eventos na identificação de substâncias explosivas. Em Mato Grosso do Sul, a PRF conta com seis cães policiais, que vivem e são treinados na sede do Grupo em Campo Grande. Os cães são da raça Pastor Alemão e Pastor Belga de Malinois. Apesar de não haver canil em Dourados, dois cães farejadores de drogas estão sempre auxiliando os trabalhos da PRF local: a K-9 Alpha, de 4 anos de idade e o K-9 Chacal, atualmente com dois anos e quatro meses de idade.

O Grupo de Operações com Cães é requisitado por diversas forças policiais, além das próprias equipes da PRF. As drogas podem estar escondidas e até misturadas com substâncias que exalam diferentes odores, mas mesmo assim, o animal consegue identificar a droga oculta em diversos tipos de veículos. O agente PRF Rafael Tavares explica que o animal não tem contato direto com a substância, e que apenas consegue identificar o odor que exala dessas substâncias em por meio do olfato em razão do treinamento realizado.

Os animais escolhidos para atuar na PRF começam suas carreiras muito cedo. Atualmente a aquisição deles é realizada por meio de licitação, ou seja, uma compra pública realizada por um ente governamental, que seleciona uma empresa privada como fornecedora destes animais. A empresa vencedora realiza então a seleção dos cães, com aproximadamente quatro meses de idade, com base nas suas qualidades e instintos naturais, que irão por meio de treinamentos específicos, sendo aprimoradas para preparar o animal para o trabalho nas rodovias federais, estando aptos ao serviço aproximadamente aos dois anos de vida.

Para o agente PRF Rafael Tavares, uma das principais vantagens da utilização do cão policial nas estradas é a rapidez e a eficiência. Na fiscalização de bagagens em veículos de transporte de passageiros, por exemplo, o tempo reduziu de cerca de 40 minutos para 2 minutos. As viaturas do GOC também são todas adaptadas para os cães policiais. Contam com ar-condicionado e local preparado para ração e água. Os cães também possuem treinamento para acompanhar as equipes de Operações Aéreas da PRF, aumentando o tempo de resposta nos mais diversos acionamentos.

O canil da PRF existe desde 2006, e de lá pra cá aproximadamente os cães policiais ajudaram a apreender 1 tonelada de cocaína e mais de 17 toneladas de maconha. No último ano cerca de 75 pessoas foram detidas por crimes diversos nas rodovias federais de Mato Grosso do Sul com a ajuda do Grupo de Operações com Cães da PRF, sendo dessas 50 pessoas detidas por tráfico de drogas.

PM

Em Dourados, cerca de 13 toneladas de drogas foram apreendidas no período de um ano com a ajuda do Canil da Força Tática da Polícia Militar. No local oito cães são treinados diariamente para ajudar os policiais no combate a criminalidade pelos bairros da cidade. Cinco deles são Belga Malinóis, um Rottweiler, um Pastor Alemão e um Malinois KNPV. Todos são farejadores de drogas e atuam em fiscalizações de residências, operações policiais da PM e do Departamento de Operações de Fronteira (DOF) na região, quando solicitados.

Três deles já atuam com os militares: K-9 Milan, de 6 anos, K-9 Roberto de 10 anos e o K-9 Spack, de 6 anos. Estão em fase final de treinamento os cães K-9 Raza, de dois anos, K-9 Delta de 1 ano e seis meses, o K-9 Aníbal, de um ano e um mês e K-9 Alfa, de um ano. O K-9 Mago tem cerca de 60 dias e está no início dos treinos.

A cadela K-9 Inca foi a primeira a se aposentar no Canil da PM. Ela foi doada oficialmente por tempo de serviço e está em fase de adaptação na casa de um policial. Na PM, quando um cão se aposenta ele recebe homenagem com direito a cerimônia e formatura no Batalhão.

Os militares explicam que devido ao treinamento, o cão consegue detectar drogas em locais em que para o ser humano seriam muito difíceis. É o caso de uma recente apreensão de pasta base de cocaína em um tanque de combustível de uma caminhonete. O suspeito na abordagem não apresentou nervosismo, não haviam suspeitas, mas os cães, ao se aproximarem, indicaram a substância ilícita.

A rotina dos treinamentos começa pela manhã. A primeira atividade é a higienização e verificação do estado de saúde dos animais. Há passeios, alimentação e treinamentos das 9h às 11h. O cão não tem contato com drogas e sim com o odor sintético de substâncias como maconha e cocaína. Assim como nos demais canis policiais, o treinamento é voltado para a recompensa ao brinquedo e estímulos dos instrutores. O canil recebe a ajuda de doações importantes para se manter. Fazem parte da equipe de instrutores: os cabos PM Mayer, PM Garcia, PM Benites e os soldados Emerson e Militão.

HISTÓRIA
Os cães policiais já eram utilizados no século XVIII. No entanto, foi na Primeira Guerra Mundial que países como a Bélgica e a Alemanha formalizaram o processo de formação dos cães e começaram a usá-los para tarefas específicas, tais como a guarda, o que originou a famosa série "Rin-Tin-Tin".

A prática continuou durante a Segunda Guerra Mundial. Segundo o site Saga Policial, os soldados que regressavam do conflito costumavam contar histórias sobre os cães bem treinados que estavam sendo usados em ambos os lados. O uso de cães policiais nos Estados Unidos começou com força na década de 70.

A denominação "K-9", utilizada nos cães é uma referência a unidades operacionais caninas, as chamadas "K9 units" ou "Unidades K9", termo homófono advindo do inglês "kei nine", que nada mais é do que uma abreviatura de canino, ou no inglês "canine". Esse termo teve origem no meio militar e, posteriormente passou a se referir aos cães utilizados na atividade policial.