No mês passado, mutirão do HU surpreendeu equipe do ambulatório de ginecologia e médico acredita que preconceito ainda iniba o método contraceptivo mais utilizado no mundo.

Busca por DIU surpreendente e revela deficiência de atendimento no SUS

O Humap (Hospital Universitárip Maria Aparecida Pedrossian), no campus da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) em Campo Grande, lançou e depois renovou um mutirão para mulheres interessadas em utilizarem o DIU (Dispositivo Intrauterino) de cobre. As senhas para agendar o procedimento acabaram em dois dias e os meses de abril e maio já estão “lotados”.

A procura surpreendeu a equipe do Ambulatório de Ginecologia que organiza o mutirão e mostra, para além do aumento na busca pelo DIU, a dificuldade, para as mulheres, de realizarem o procedimento no dia-a-dia do SUS (Sistema Único de Saúde). É o que pensa o ginecologista e chefe da Unidade Materno-Infantil do Humap, Ricardo dos Santos Gomes.

Ele acredita que ainda exista preconceito com relação ao DIU nas equipes de saúde e afirma que o hospital deve abrir novos agendamentos para o mês de maio. “Deu muito mais gente do que a gente imaginava, em maio vamos ter novos DIUs, a gente vai conseguir doação de material. Isso é uma resposta positiva, mostrou o quanto está deficiente a inserção do DIU”, comenta.

“As pessoas falam que tem muita dificuldade, o DIU sofre alguns problemas, muitas vezes preconceito dos profissionais, então é um procedimento que poderia ser feito em uma unidade básica, mas nas unidades rodam muitos clínicos, que se sentem inseguros. Daqui um ou dois anos ‘rodam’, é um trabalho de uma educação muito contínua”, afirma, sobre a rotatividade de médicos nas unidades de saúde.

Passo a passo – Em Campo Grande, para conseguir o procedimento é necessário procurar uma unidade de saúde. Antes de agendar a consulta, ainda assim, as mulheres têm que participar de uma palestra que orienta sobre todos os métodos contraceptivos. Ricardo argumenta que essa demora pode desestimular as mulheres de utilizarem o DIU.

“De modo geral [ocorre] no CEM [Centro de Especialidades Médicas], mas também não estava dando conta, na verdade uma das coisas que falavam é que não queriam, às vezes o médico pede ultrassom, para que venha menstruada, aí pede uma palestra para a gestante decidir, desestimula a colocarem”, diz.

A Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) afirma, por meio da assessoria de imprensa, que a escolha do método contraceptivo “é uma decisão conjunta da mulher e do profissional”.

“A colocação vai seguir os critérios médicos que devem ser respeitados. A partir de fevereiro deste ano, o encaminhamento para consulta com o ginecologista e planejamento familiar passou a ser regulado pelo sistema Sisreg, ou seja, é necessário que haja um encaminhamento feito pela unidade básica”, declarou.

Poderia ser feito em UBS – Para o ginecologista, o procedimento é, na verdade, bem simples e poderia ser realizado nas próprias unidades de saúde, responsáveis pelo planejamento familiar em saúde, do qual fazem parte os métodos contraceptivos. “Já brigamos muito com a Prefeitura para regularizar, mas o planeamento familiar deveria ser da atenção básica”, diz.

Segundo a Secretaria, até o dia 4 de abril 106 pacientes estavam aguardando para consulta ginecologia e planejamento familiar. “Todas estas pacientes já passaram pela primeira etapa na atenção básica, porém não necessariamente todas elas optaram pela colocação do DIU”, destacou.

O DIU tem sido escolhido como método contraceptivo pela maioria das mulheres em todo o mundo, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). Cerca de 170 milhões de usuárias ultrapassaram o uso da pílula anticoncepcional que tem cerca de 110 milhões de usuárias no planeta.

De outubro de 2018 a março de 2019, em Campo Grande, foram colocados 105 DIUs de Mirena e 114 de Cobre, 219 dispositivos intrauterinos.

Ricardo afirma que a equipe do Humap está em diálogo com a Prefeitura para realizar treinamento com as equipes nas unidades de saúde, uma maneira de acelerar, desmistificar e estimular o procedimento.

“Para a gente é interessante em termos de aprendizado, médico e enfermeiro poderiam fazer a orientação já nas unidades básicas. Conversamos com a Sesau pra treinarmos as UBSFs (Unidades Básicas de Saúde da Família), fizemos com alguns grupos do interior do estado, para aplicarem DIU, o último que a gente treinou é de Amambai”, disse.

Ricardo defende que o DIU é vantajoso, não só para as mulheres, já que tem longa duração, mas também para a saúde pública, porque o custo do produto é baixo. “O DIU tem várias vantagens quando a gente pensa em saúde pública. É eficaz, de longa duração, a mulher não precisa se preocupar em tomar pílula e é extremamente barato. É 17 reais um DIU pago pelo SUS”, explica.

“Muita gente está vendo que usar hormônio por muito tempo pode ter efeitos colaterais, o que não vai acontecer com uso do DIU. O brasileiro de modo geral agora que está descobrindo o DIU. A gente tinha muito preconceito dos profissionais”, argumenta.

Segundo o Ministério da Saúde, entre as vantagens do uso do DIU de cobre, estão o longo tempo de ação (10 anos), baixo índice de gravidez, intervenção única para seu uso e poucos efeitos indesejados. O Ministério aponta eficácia de 99,3% no uso do dispositivo.