A PF pediu a quebra de sigilo com base em conversas por escrito, fotos e áudios trocados por Cid com outros funcionários da Presidência que sugerem a existência de depósitos fracionados e saques em dinheiro.

Bolsonaro diz que Moraes ultrapassou todos os limites com quebra de sigilo de assessor
Bolsonaro diz que Moraes ultrapassou todos os limites com quebra de sigilo de assessor. / Foto: © Getty

O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta terça-feira (27) que o 'pessoal da Polícia Federal' que pediu a quebra de sigilo bancário de seu principal ajudante de ordem, tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, 'come na mão' do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal) e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Ele disse ainda que Moraes 'ultrapassou todos os limites' com a decisão que autorizou a quebra de sigilo, por ter atingido gastos de sua esposa.

'Alexandre, você mexer comigo é uma coisa, você mexer com minha esposa, você ultrapassou todos os limites, Moraes, todos os limites. Está pensando o que da vida? Que pode tudo e tudo bem? Você um dia vai dar uma canetada e me prender? Isso que passa na tua cabeça? É uma covardia.'

Conforme a Folha de S.Paulo revelou, a PF encontrou elementos no telefone de Cid que levantaram suspeitas de investigadores sobre transações financeiras feitas no gabinete do presidente da República.

Moraes deferiu o pedido da PF para que a corporação tenha acesso aos dados do assessor do mandatário.

O presidente não especificou em sua fala quais eram os agentes da Polícia Federal que, segundo ele, participariam das ações de Moraes para atingi-lo.

Na PF, a investigação era conduzida pela delegada Denisse Ribeiro. Após ela sair em licença maternidade, o caso passou a ser conduzido pelo delegado Fabio Shor.

O chefe do Executivo é um crítico dos delegados que são responsáveis pelas investigações em curso no Supremo que envolvem Bolsonaro e aliados, como é o caso dos inquéritos das fake news e das milícias digitais.

Em live transmitida nas redes sociais nesta terça, o presidente também acusou o ministro de ser o responsável pelo vazamento das informações encontradas na quebra do sigilo de Cid.

'Foi o Alexandre de Moraes que vazou. Não vem com papinho que foi a PF não, porque a PF, esse pessoal da PF, Alexandre de Moraes, come na tua mão. Então, foi você que vazou', disse.

O presidente disse ainda que o total de valores movimentados é de R$ 12 mil. Segundo ele, Cid faz o pagamento de despesas da primeira-dama Michelle Bolsonaro, como manicure e plano de saúde de um parente, além de pagar uma tia que costuma cuidar de sua filha Laura.

A PF pediu a quebra de sigilo com base em conversas por escrito, fotos e áudios trocados por Cid com outros funcionários da Presidência que sugerem a existência de depósitos fracionados e saques em dinheiro.

O material analisado pela Polícia Federal indica que as movimentações financeiras se destinavam a pagar contas pessoais da família presidencial e também de pessoas próximas de Michelle.

A quebra de sigilo bancário ocorre dentro do caso que apurava o vazamento de uma investigação sobre um hacker no TSE. A apuração foi compartilhada por Moraes e agora tramita no inquérito das milícias digitais.

Bolsonaro afirmou que seu ajudante de ordem é uma pessoa de sua 'confiança' e que tem acesso à sua vida particular e a decisões de governo, como encontro com presidentes de outros países.

'Então, ele [Moraes] pega isso tudo, e tem a ver com a minha vida particular, e de forma, eu não vou adjetivar aqui porque tenho vergonha de falar o adjetivo que merece o Alexandre de Moraes, ele vaza para a imprensa isso para constranger a mim', disse.

Bolsonaro disse que tem três cartões corporativos, um para ser usado em viagens, outro para despesas do Palácio da Alvorada e um terceiro em que pode sacar verba em dinheiro vivo. Segundo ele, porém, nenhum valor foi retirado.

Na live, antes de iniciar as declarações sobre o tema, Bolsonaro diz que Cid está na sua frente -ele não aparece no vídeo.

O presidente disse que é uma 'covardia' o comportamento de Moraes e reclamou que o ministro teve acesso a diversas conversas sobre temas particulares com o ajudante de ordem devido à quebra de sigilo telemático determinada em outro inquérito.

'Então está lá as conversas com WhatsApp do Cid, com a minha esposa, com a primeira-dama, do Cid comigo, do Cid com os demais ajudantes de ordem', diz.

Ele detalhou como faz os pedidos ao assessor: 'Olha, sua missão é essa. Faz isso, quebra esse galho aqui, paga aquela conta', relatou.

E complementou: 'Alexandre, fazer um pedido para você. Se é que você tem... se é que você merece que eu faça um pedido: esqueça a minha esposa. Esqueça a minha esposa. Isso é comportamento de quem... de pessoas vis'.

Cid tornou-se alvo no STF na investigação sobre o vazamento de informações sigilosas relativas ao caso do ataque ao TSE.

Ele passou a ser investigado por ter atuado no episódio e teve o sigilo telemático (emails, arquivos de celular e nuvem de armazenamento) quebrado por ordem de Moraes. Na análise desse material, a PF se deparou com movimentações financeiras que considerou suspeitas.

Em conversas por aplicativos de mensagens, integrantes da Ajudância de Ordens trocam recibos de saques e depósitos e abordam o pagamento de boletos.

Uma das suspeitas que estão sendo apuradas pela PF com base nos diálogos é o pagamento de uma fatura de plano de saúde de um parente do casal presidencial.

A assessoria da Presidência nega qualquer irregularidade nas transações e diz que os valores movimentados têm como origem a conta particular do presidente da República.

Segundo a assessoria, as transações vistas como suspeitas pela PF têm origem em dinheiro privado de Jair Bolsonaro.

'Todos os recursos não têm origem no suprimento de fundos [cartão corporativo]. O presidente nunca sacou um só centavo desse cartão corporativo pessoal. O mesmo está zerado desde janeiro de 2019', afirma.