Policial penal alvo da Operação Blindspot ainda enviava fotos de agentes do Gaeco para o líder da organização criminosa

Blindspot: policial repassava informações a líder de quadrilha sobre detento com dívida de R$ 300 mil
Policial penal alvo da Operação Blindspot ainda enviava fotos de agentes do Gaeco para o líder da organização criminosa / Foto:  Divulgação

O policial penal alvo da Operação Blindspot, deflagrada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), em Mato Grosso do Sul, repassava informações a um dos líderes da organização criminosa sobre um detento com dívida de R$ 300 mil. O policial em questão é mesmo que foi alvo de operação deflagrada pelo Gaeco, em 2022.

A quadrilha é investigada por manter uma extensa rede de distribuição de drogas por todo o Brasil. Nessa quarta-feira (9), equipes do Gaeco cumpriram mandados de prisão preventiva e de busca e apreensão em Corumbá, Ladário, Dourados e outros estados brasileiros

O policial penal investigado por integrar a quadrilha estaria trabalhando no presídio do regime semiaberto. Ele, que recebe salário de R$ 7.300, conforme o Portal da Transparência, tinha uma amizade íntima com Edimilson Santos Pereira, apontado como um dos líderes da organização.

As investigações sobre a organização criminosa começaram após a apreensão do aparelho celular de Edimilson. Informações obtidas pelo Jornal Midiamax são de que os laços entre ele e o policial se iniciaram após a negociação de uma motocicleta. Na ocasião, o servidor se colocou à disposição de Edimilson, tendo ciência da relação dele com o tráfico de drogas.

De dentro do presídio, o policial penal repassava informações sobre sistemas restritos. Em uma das ocasiões, o líder teria pedido que o policial verificasse a ficha de um preso, que estaria lhe devendo cerca de R$ 300 mil. Na época, em dezembro de 2022, o policial enviou uma foto da tela do computador comprovando a consulta solicitada pelo líder da organização criminosa.

Além disso, as investigações do Gaeco revelaram que o policial realizava a checagem de veículos para o chefe da quadrilha. Em 2023, Edimilson teria enviado a foto de uma placa de veículo, pedindo que o servidor fizesse a checagem sobre a propriedade do mesmo. A solicitação foi atendida pelo policial, que inclusive enviou um ‘print’ sobre a consulta feita no sistema.

Em outra ocasião, o policial também teria adquirido munições de arma de fogo — sem autorização — para o líder da quadrilha. Também, utilizando de seu cargo, o policial penal repassava informações ao chefe sobre operações policiais. Ele teria enviado fotos de um policial do Gaeco durante cumprimento de mandados.

Operação Blindspot 
Um dos alvos da Operação Blindspot foi preso em Corumbá, com 20 munições calibre .380 intactas, armazenadas em um guarda-roupa em uma casa na manhã de quarta-feira (9). Uma pessoa foi conduzida para prestar depoimento. 

Além de Corumbá, foram cumpridos mandados em Dourados e Ladário. Ao todo, são 37 mandados de prisão preventiva e 30 mandados de busca e apreensão. Em São Paulo, são alvos os municípios de Caiuá, Campinas, Mairinque, Mirandópolis, São José do Rio Preto, São Paulo e Uberaba (MG).

Munições apreendidas. (Divulgação)
Investigações

As investigações revelaram a atuação de uma organização criminosa altamente estruturada, com extensa rede de distribuição de drogas, com vários integrantes — incluindo policial penal cooptado — e voltada, principalmente, ao tráfico de cocaína e pasta-base.

A organização criminosa usava diversas estratégias de ocultação, como o acondicionamento dos entorpecentes em estepes e, até mesmo, no interior de cilindros de oxigênio adulterados.

O transporte da cocaína era feito por meio de caminhões usados no transporte rodoviário de cargas, sendo que a logística criminosa se apoiava no aliciamento dos motoristas do setor, que recebiam valores para realizar o transporte clandestino de drogas escondidas entre cargas lícitas.

Cocaína em cilindros
Na época, o motorista disse que seguia de Corumbá transportando os cilindros de oxigênio e teria feito ‘um bate e volta’. No entanto, o suspeito apresentou nervosismo excessivo e muita inquietude. Então, os policiais subiram no caminhão para checar a carga, quando perceberam que os cilindros estavam diferentes ao toque, como se houvesse algo dentro.

Os agentes questionaram o motorista sobre o que havia dentro dos cilindros. Porém, ele disse que não tinha nada, que estariam vazios. Em seguida, um dos policiais conseguiu soltar uma das válvulas de um cilindro e pôde visualizar que havia alguns tabletes em seu interior. Foram abertos 11 cilindros, que continham em seu interior cocaína, totalizando 137 tabletes, com o peso de 146,860 quilos.

Também, mais 250 tabletes de pasta-base, pesando 267 quilos; oito invólucros de haxixe marroquino, pesando 7 quilos; e mais quatro invólucros da supermaconha, pesando 2,250 quilos.