Uma herdeira da família fundadora da McCain Foods pede um payout superior a US$ 725 milhões para vender sua participação na maior produtora mundial de batatas fritas congeladas, fornecedora do McDonald’s.

Batatas do McDonald’s viram palco de disputa familiar bilionária; entenda
McCain é a principal fornecedora de batatas congeladas do McDonald's. / Foto: Dilvulgação/McDonald's

Um novo conflito familiar está abalando a McCain Foods, maior produtora mundial de batatas fritas congeladas, quase três décadas após uma disputa de sucessão que marcou a história da companhia. Desta vez, o embate envolve a nova geração da família fundadora e gira em torno da exigência de um pagamento para a compra de participação, avaliado em mais de US$ 725 milhões (R$ 3,9 bilhões).

Segundo reportagem do Financial Times, Eleanor McCain, musicista de 56 anos que vive em Toronto e filha de Wallace McCain, um dos fundadores da empresa, quer vender sua parte no grupo privado para se dedicar a projetos de filantropia, diversificação de investimentos e planejamento sucessório.

A avaliação atribuída por Eleanor à sua fatia, no entanto, não é aceita por outros membros da família, o que reacende tensões internas em um conglomerado que hoje fatura cerca de US$ 11,7 bilhões por ano e é um dos principais fornecedores globais do McDonald’s.

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A McCain Foods foi fundada em 1957 pelos irmãos Wallace e Harrison McCain e cresceu até se tornar um gigante global de alimentos congelados. De acordo com a própria empresa, uma em cada quatro batatas fritas consumidas no mundo leva a marca McCain.

O sucesso, porém, veio acompanhado de conflitos. Nos anos 1990, os dois irmãos protagonizaram uma disputa considerada “brutal” por controle e estratégia, que resultou em uma batalha judicial de três anos, custos legais superiores a C$ 20 milhões e cicatrizes duradouras na família.

Atualmente, a McCain Foods opera sob uma estrutura de governança em dois níveis: uma holding familiar supervisiona um conselho operacional separado, que inclui diretores independentes. O modelo foi desenhado justamente para blindar a gestão de disputas familiares, mas agora está sendo colocado à prova.

Eleanor não participa da gestão cotidiana da empresa. O comando do conselho está nas mãos do irmão dela, Scott McCain. Caberá à estrutura de governança definir como sua participação será avaliada e viabilizar uma eventual saída sem repetir os embates públicos do passado.

Em comunicado ao Financial Times, representantes de Eleanor afirmam que ela não está fazendo exigências, apenas exercendo o mesmo direito de venda disponível a qualquer outro acionista. A intenção, segundo a nota, é resolver o assunto de forma justa, rápida e confidencial.

Pessoas próximas à família ouvidas pelo jornal destacam que o impasse vai além de números. A McCain Foods é um negócio fundado pelo pai de Eleanor, o que torna a decisão de sair emocionalmente complexa.

Disputas judiciais anteriores já haviam revelado detalhes do estilo de vida da família, com patrimônio de centenas de milhões de dólares, múltiplas propriedades, barcos e gastos elevados com educação privada e serviços de alto padrão.

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Para especialistas em empresas familiares, o caso ilustra um risco recorrente. Tony Maiorino, diretor de serviços para famílias do Royal Bank of Canada, afirmou ao Financial Times que negócios controlados por famílias tendem a enfrentar conflitos sobre participação societária, liderança e visão estratégica quando estruturas de governança não conseguem absorver pressões intergeracionais.

A família McCain preferiu não comentar o assunto.