Estiagem e falta de oferta de animais impactam em alta de 48,77% no quilo de cortes bovinos.

A arroba do bovino de corte já registra valorização de mais de 50% em 2021 e começa a pesar no bolso do sul-mato-grossense. Conforme a cotação de ontem, da Scot Consultoria.
Em Campo Grande, a arroba do boi era comercializada a R$ 310,50 no preço à vista, enquanto no contrato para 30 dias o valor atingiu R$ 312, maiores valores já praticados em Mato Grosso do Sul. Em Dourados a arroba do gado é comercializada por R$ 309,50 à vista, e em Três Lagoas a arroba custa R$ 305,50.
Dados do boletim Casa Rural, elaborado pela Federação da Agricultura e Pecuária de MS (Sistema Famasul), apontam que no mês passado a arroba do boi foi negociada, em média, a R$ 307,69.
Valorização de 49,50% em relação a julho de 2020, quando a arroba chegou a R$ 205,80. Já a vaca apresenta alta de 54,49%, saindo de R$ 190,13 em 2020 para R$ 293,75 neste ano.
“O comportamento demonstra que a condição de oferta enxuta não possibilita espaço para queda no preço da arroba, e a valorização depende da reação do consumo', detalha o relatório técnico da Famasul.
A tendência é de novas altas para os próximos meses. De acordo com os dados da bolsa de valores, B3, os contratos para outubro são negociados a R$ 327, enquanto as negociações para novembro de 2021 chegam a R$ 332.
O presidente do Sindicato Rural de Três Lagoas (SRTL), Kennides Martins Batista Filho, acredita em preços ainda mais elevados para novembro.
“A arroba deu uma estabilizada nos últimos dias, mantendo os preços de R$ 310 em MS e R$ 320 em São Paulo. Mas a tendência é de termos uma valorização até novembro por conta da estiagem e das geadas que comprometeram a safra de milho', diz.
“O valor do milho vai subir e impacta diretamente porque é o principal insumo da alimentação animal. A gente acredita que a arroba possa chegar até a R$ 350 em novembro', completa Batista Filho.
Segundo o boletim Casa Rural, no primeiro semestre de 2021, o preço médio da arroba do boi foi R$ 289,01 em Mato Grosso do Sul, com valorização de 58,77% frente aos R$ 182,04 registrados no primeiro semestre de 2020. Já a arroba da vaca foi cotada a R$ 273,74 com alta de 64,48% em relação ao preço médio do primeiro semestre de 2020, que foi de R$ 166,42.
Ainda de acordo com o presidente do sindicato, os preços podem começar a baixar em dezembro. “Com a chegada das chuvas e o envio para o exterior, que diminui no fim do ano, a expectativa é de que teremos uma redução entre dezembro e começo de 2022', conclui Batista Filho.
CONSUMIDOR
A valorização no preço da arroba do gado reflete diretamente no quilo dos cortes bovinos nos açougues.
Dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) apontam que em 12 meses os cortes bovinos aumentaram 48,77%.
Em junho de 2020, os cortes bovinos, como patinho, coxão duro e coxão mole, eram comercializados a R$ 25,38, em média. Já no mesmo período deste ano, para comprar um quilo dos mesmos cortes foi preciso desembolsar R$ 37,76 no Estado.
“O consumidor pouco pode fazer, e o que ele costuma fazer? Ele migra para as carnes suína e de frango, no entanto, essas também estão caras. Porque a base da alimentação de suínos e aves é o milho. A gente está em um momento que os custos dos frigoríficos também estão sendo impactados pelo aumento expressivo do milho e da soja', avalia a economista Adriana Mascarenhas.
Ainda de acordo com a economista, caso haja uma retração na demanda, é possível que os preços fiquem em equilíbrio.
“Vale ressaltar que o consumidor só absorve esse aumento até um certo ponto. A tendência é de que ele deixe de consumir. O que pode acontecer é que quando esse consumidor deixar de consumir a demanda caia. E com isso podemos ter um equilíbrio nos preços'.
Pesquisa da Subsecretaria de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon Campo Grande), aponta aumento de até 62% nos preços praticados em Campo Grande.
O corte que mais subiu foi a agulha, em dezembro de 2019 custava R$ 19,19, e no mês passado o quilo foi a R$ 31,10. Na sequência, o quilo da paleta aumentou 58%, saindo de R$ 20,93 para R$ 33,06.
Entre os cortes de primeira, o maior aumento foi registrado no quilo do patinho, que aumentou de R$ 28,87 para R$ 38,88 – diferença de 35%. O coxão duro valorizou 34%, passando de R$ 27,82 para R$ 37,35 no período. Já a picanha saiu de R$ 45,77 para R$ 59,65 em média.
PRODUÇÃO
Conforme o relatório de movimentação de bovinos da Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Iagro), Mato Grosso do Sul produziu 1,72 milhão cabeças para abate, no primeiro semestre de 2021. O número representou queda de 8,17% em relação ao mesmo período de 2020, quando o Estado abateu 1,87 milhão de cabeças.
De acordo com o titular da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), Jaime Verruck, a produção influencia diretamente na escala de abates dos frigoríficos.
“Podemos ter paralisação de algumas plantas em função da não disponibilidade bovina, como recentemente aconteceu na cidade de Coxim e também em outras. Principalmente, em função dos impactos adicionais que a geada estabeleceu nas pastagens'.
Como já adiantado pelo Correio do Estado, o presidente do Sindicato Rural de Campo Grande (SRCG), Alessandro Coelho, ressalta que todas as regiões sofreram bastante com o clima, e que a estiagem chegou mais cedo à pecuária em 2021.
“É um ano atípico, e a pecuária acaba de sair de uma crise de cinco anos. A gente esperava um ano muito bom para o setor e já temos um grande prejuízo nesse início de ciclo. A quebra na safra de milho vai gerar uma repercussão na criação de gado, porque o cereal é a fonte mais eficiente para a produção de proteína animal'.
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