Conflito em Amambai continua deixando clima tenso e tem repercussão nacional.

Após comoção em enterro, Justiça determina soltura de indígenas presos
Indígenas manifestaram durante enterro em Amambai-MS. / Foto: Povos Guarani Kaiowá/ site Cimi

Cerca de 2 mil acompanharem, na tarde dessa segunda-feira (27), o enterro de Vitor Guarani Kaiowá, 42 anos, indígena morto durante ação da Polícia Militar na última sexta-feira (24), em Amambai, cidade do interior a 351 km de Campo Grande. Após isso, o TJMS (Tribunal de Justiça de MS) determinou a soltura dos quatro indígenas que foram feridos, e posteriormente presos durante o conflito.

Segundo informações do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), o pedido de soltura foi realizado pelas defensorias públicas da União (DPU) e do Estado (DPE). A juíza plantonista Tatiana Decarli, da Justiça do Mato Grosso do Sul, acolheu a solicitação dando liberdade aos Guarani Kaiowá.

Os quatro indígenas participavam de ocupação de uma área rural quando houve a intervenção da PM de MS.

Massacre Guapoy

Segundo o Conselho Indigenista, devido à gravidade e truculência dos policiais na manhã do dia 24 de junho, durante a ocupação na região em que os indígenas entendem como pertencer ao território Guapoy, eles agora referem-se à situação como “massacre de Guapoy”.

"Na ocasião, policiais militares dispararam tiros de borracha e de arma de fogo contra os indígenas, deixando ao menos nove feridos e um morto – Vitor Guarani Kaiowá, de 42 anos. A comunidade denuncia ainda ser alvo de uma série de preconceitos e acusações que não encontra respaldo na realidade dos fatos", diz o Conselho Indigenista Missionário.

Enterro e acordo com o fazendeiro

Ainda segundo o Cimi, através da Defensoria  do Ministério Público Federal houve um acordo com o fazendeiro que ocupa, atualmente, a área da retomada dos Guarani Kaiowá. Neste acordo foi estabelecido que a cova permaneça até 15 metros da cerca – uma forma de evitar um novo episódio de violência policial e permitindo, assim, que amigos e parentes de Vitor possam visitar o túmulo.

“Desde que o corpo foi liberado, fizeram um velório e mantiveram o corpo, demandando o direito de enterrar sobre o território. E isso é uma questão importante para os povos Guarani Kaiowá. Eles fazem essa ligação: de onde tomba o guerreiro com a questão espiritual de estar plantado sobre a terra tradicional”, afirmou um dos representantes do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) – que, por segurança, terá sua identidade preservada.

Caso Guapoy

A reserva de Amambai é a segunda maior do estado de Mato Grosso do Sul em termos populacionais, com quase 10 mil indígenas.

Para os Guarani Kaiowá, Guapoy é parte de um território tradicional que lhes foi roubado – quando houve a subtração de parte da reserva de Amambai. Os indígenas clamam atenção, exigem proteção às suas vidas e seus direitos.

O Cimi pede, controle e investigação do caso pelo Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH).