Débora Moura é aluna de Juliana de Oliveira e, juntas, criaram meios para que a jovem pudesse se desenvolver na música.

Adolescente supera malformação nos braços e aprende a tocar violino adaptado por professora:
Débora Moura tem 15 anos e superou as barreiras físicas para aprender a tocar violino no interior de SP / Foto: Mirela Von Zuben/G1

A estudante Débora Moura tem 15 anos e, há seis meses, começou a tocar violino em Santo Antônio de Posse (SP). O instrumento foi adaptado pela professora de música Juliana de Oliveira, do Projeto Guri da mesma cidade, e a adolescente tem se dedicado desde então à superação deste desafio: o de fazer música com cordas, mesmo com a malformação que ela tem em ambos os braços.

Débora é apaixonada pela cultura pop asiática – a jovem inclusive coleciona pôsteres do fenômeno coreano BTS – e conta que chegou até o violino por acaso. “O Guri fez uma apresentação na escola, uma amiga minha ficou interessada e pediu para eu acompanhar ela”, relata.

“Eu tinha dito que só cantaria, porque não sabia se conseguiria tocar um instrumento. Quando a gente chegou para fazer a inscrição, eu ia fazer só canto”, afirma Débora.
 
Débora conta que, quando chegou para fazer a inscrição, uma das professoras de música da unidade, Juliana de Oliveira, “brotou” em sua frente. “Quando a Débora chegou, eu estava meio que ajudando com outras coisas. Brotei porque estava de costas e ela falou que só faria canto. Eu logo me inconformei: ‘Como assim vai fazer só canto? Tem que fazer um instrumento também’”, conta a professora, que dá aulas de violino.
 
“Eu não tinha me deparado ainda com a Débora, estava de costas. Elas falaram que não ia dar certo, foi então que olhei”, relembra. Quando percebeu a situação, a professora aceitou o desafio de prontidão e encorajou a estudante a tentar aprender.

“Eu te prometo que você vai tocar corda solta. Você topa esse desafio comigo? Você vai me ajudar e vamos aprender juntas”. Esta frase final de Juliana foi suficiente para convencer a adolescente e, desde então, elas têm aprendido juntas.

“Hoje eu não arrisco dizer que a Débora não vai fazer alguma coisa. Eu penso que ela vai conseguir tudo que ela quiser”, diz a professora Juliana.

Violino adaptado
 
A partir do momento em que Débora se inscreveu, ela conta que a insegurança começou a se manifestar. “Ela [a professora] disse no dia que se eu não quisesse, ou se não gostasse, eu poderia sair. Pensei que não ia conseguir, mas a Juliana me ajudou muito”, conta a jovem.

Juntas, aluna e professora criaram a adaptação adequada para os braços de Débora. No braço direito, ela encaixa o arco com uma alça de silicone. No esquerdo, alterna entre apoiar o violino, com o instrumento projetado mais para a frente do que para o lado, e dedilhar as cordas colocando o braço por cima da haste. “A gente tentou de diversas formas. Chegamos a usar até um velcro, mas o silicone foi perfeito”, relata Juliana.

Quebra de barreiras
 
O começo, para Débora, foi difícil. Mesmo com a dificuldade de aprender um instrumento, ela diz que se saiu bem. “Acho que aprendi rápido, mas é uma longa jornada. Tem muito tempo pela frente”, afirma a adolescente, que hoje já consegue dominar algumas notas no violino. Veja no início da matéria uma demonstração que ela fez para o G1, sob supervisão da professora Juliana.

Atualmente, Débora aprende os ‘primeiros passos’ da composição de um instrumento bastante reconhecido na música clássica, mas que ela já vê em um formato mais próximo do popular. “Eu posso tocar outros instrumentos com corda, e outros sem corda, mas acho que posso ir além disso e mostrar para o mundo que sou mais do que eles pensam”.

Àqueles que sofrem algum tipo de preconceito por não se encaixarem nos padrões de estereótipos e ‘perfeições’ estabelecidos pela sociedade, a adolescente encoraja – e deixa um recado: “Tem que tentar, ter determinação, não desistir. Continua que você vai conseguir”, e aproveita a deixa ritmada para brincar: “Eu rimei, né? Agora vou entrar no Rap, no Rap com violino, vai ficar bom!”.

Incentivo da mãe
 
Débora é filha da dona de casa e catadora de recicláveis Maria Luiza de Paula, mãe que teve papel primordial no desenvolvimento da jovem. “Desde o início, quando ela começou a sentar, eu já colocava coisas miudinhas para ela pegar, tipo agulha, moeda. Depois ela foi aprendendo a caminhar, segurar o copo... era até o bonitinho o jeito que ela segurava”, brinca a mãe.

“Sempre falei para ela não dar bola [para o bullying], porque as pessoas veem defeitos nela, mas são elas que têm defeitos, porque ela não tem defeito. Ela é ótima, perfeita e muito amada”, afirma a mãe de Débora.
 
Maria Luiza se emociona quando relembra os preconceitos que a filha sofreu durante a infância e a coragem que as norteou até a atualidade. “Ela se escondia... até hoje ela se esconde e eu sofro com isso. Mas ela é muito esperta, muito inteligente, e tenho o maior orgulho dela, porque ela aprende muito rápido”.

Hoje, a mãe acompanha os passos da filha e diz que dará o apoio necessário, caso Débora decida 'viver de música'. “Eu daria a maior força para ela, é uma felicidade muito grande, mas eu sou assim: sou uma mãe que deixa os filhos fazerem o que eles têm vontade. Se eles querem fazer, dou a maior força. Vou estar sempre junto, com certeza”.