Desde o começo deste ano, a advogada cearense, Walderlane França, de 40 anos, vive um drama familiar ao perder a guarda do seu único filho Pedro, de dois anos, para o pai da criança. Ela só queria protegê-lo e cuidar da sua saúde, já que o menino vinha com um quadro de broncopneumonia há alguns dias

“Acolhi meu filho doente e perdi a guarda dele"
Eu, Leitora: “Acolhi meu filho doente e perdi a guarda dele" / Foto: Arquivo Pessoal

“Conheci o pai do meu filho via amigos em comum, que o apresentaram como uma pessoa zen, tranquila, um cara do bem! Eu estava com 35 anos e ele 41.  Era Coronel da Polícia Militar aqui de Fortaleza, onde moramos. Quando conversamos pela primeira vez, tive a sensação de que ele estava me investigando. Achei que era interesse, mas não. Ele estava fazendo ‘espelhamento’ comigo, que é uma espécie de estratégia para conquistar a pessoa. Tudo que dizia gostar, ele também gostava. Fazia tudo de acordo com o que eu contava. Lembro que descrevi como gostaria de ser tratada pelo ‘homem dos meus sonhos’ e ele seguiu tudo, passo a passo. Durante um ano, fomos só amigos, só depois começou o namoro e rapidamente fomos morar juntos. Ambos havíamos sido casados antes e ele já tinha dois filhos.

Assim que mudamos, ele passou a me tratar com grosseria e desconfiança. Pensei que era só uma fase, que ele voltaria a ser quem era começo da relação. Quanta ilusão! Eu ainda não tinha conhecido seu lado mais vil, o pior estava por vir. Só sei que, nessa espera dele melhorar, perdi dois celulares, um tablet, pufs, algumas louças, entre outros objetos. Tudo isso devido as loucas crises de ciúmes que ele tinha, junto ao excesso de possessividade. Ele passou a me vigiar o tempo todo. Dizia que eu era desiquilibrada, queria me levar a psicólogos e psiquiatras. Então, comecei a suspeitar que sua meta era mesmo me enlouquecer e me transformar num alvo fácil para ele me dominar.

Óbvio que, com toda essa loucura, o amor começou a minguar. Nossa relação já estava bem desgastada quando descobri que eu estava cheia de cistos no útero e precisei retirá-los. Com isso, tive que parar de tomar o anticoncepcional, até mesmo para diminui-los. Para minha total surpresa, fiquei grávida do meu filho, Pedro. Me lembro que, quando soube, gritava desesperada, angustiada, com medo, porque já sabia que seria muito difícil ter um filho com aquele homem por perto. Sabia que ia viver um caos. Meu filho nasceu lindo e saudável. Mas meu marido dizia que ele me manipulava com o choro, judiava da nossa relação como podia.

Pouco depois, tive uma crise de enxaqueca que durou dois meses ininterruptos. Era um martírio, eu gritava de dor! Então, ele passou a me isolar da criança dentro da nossa própria casa. Fazia isso como punição porque eu não podia ficar sozinha com o bebê. Ele, que vivia dizendo que era uma farsa, passou a me isolar em casa. Não podia chegar perto dele nem do meu filho, passava dias sem falar comigo nem me procurar para nada. Para dormir com meu filho tinha que pedir autorização – e nem sempre conseguia. Nossa relação era assim, uma loucura!

Até que um dia, resolvi conversar com ele. Queria entender aquela frieza, nada mais do que isso. Aos gritos, ele se levantou da nossa cama e foi me empurrando até o chão. Se dirigiu ao quarto do bebê, que já estava dormindo, e eu tentei impedi-lo para que Pedro não acordasse. Quando cheguei na porta, o covarde esmurrou a minha cabeça e me chutou várias vezes, mesmo eu com forte crise de enxaqueca. A essa altura, meu filho já estava chorando. Ele nem deu bola. Tentou quebrar meu braço na porta para eu não me aproximar da criança. Ajoelhei e lhe supliquei para sair dali, mas ele só ria e me xingava, me chamando de ridícula e outros nomes horríveis. Com medo dele me matar, nessa mesma noite, pedi abrigo na casa da minha mãe.

No dia seguinte, no entanto, acordei com pena dele e desisti de dar queixa na delegacia. Também pensei na mãe dele, que na época estava com 87 anos. Não queria que ela visse o filho preso. Mais calma, telefonei para ele e fiz a proposta da guarda compartilhada. Ele não concordou, sob ameaça de publicar fotos minhas nuas na internet. Quando percebi que realmente ele não se importava com as suas agressões, muito menos comigo e com nosso filho, decidi denunciá-lo. A partir dali, foi deferida a medida protetiva a meu favor. Ele me agrediu uma única vez fisicamente, mas psicologicamente era todo dia. Esse relacionamento tóxico durou quatro anos, nem sei como sobrevivi a ele.

"Fiz um tratamento para ovulação e descobri que estava grávida de quíntuplos"
Quatro dias depois, no dia 13 de dezembro de 2018, dia do aniversário de dois anos do Pedro, meu marido entrou na justiça com uma ação de guarda. Eram 11 da manhã e, surpreendentemente, nesse mesmo dia à tarde já havia saído uma liminar determinando que Pedro passaria sete dias com o pai e outros sete dias comigo – a chamada guarda alternada, que era seu desejo desde o início. Nessa ação, meu ex alegou que eu tinha sérios transtornos mentais e distúrbios comportamentais e que, por isso, nosso relacionamento havia se desgastado. Ainda anexou a foto de uma receita médica prescrita por um psiquiatra para combater a minha ansiedade pré-menstrual, que ele pegou escondido na minha bolsa.

No fim de dezembro do ano passado, Pedro chegou da casa dele muito gripado, de uma maneira que nunca tinha visto antes. Tentei tratar, mas a guarda alternada atrapalhou sua rotina de medicamentos. Mandava os antibióticos para o pai continuar o tratamento que começava em casa, e ele sempre voltava pior.

Por diversas vezes, fui até a justiça para falar do quadro de saúde que a criança se encontrava e a digníssima juíza ignorava. Desconfiada, fiz uma pesquisa nas redes sociais e descobri que ela era amiga do meu ex cunhado, que também é juiz. Naquele momento, entendi que não adiantaria pedir nada mais a ela. Todos os despachos, mandados e oficiais de justiça estavam de prontidão para cumprir qualquer pedido do pai de meu filho, enquanto os meus eram completamente ignorados.

No final de março, cheguei aflita à audiência de conciliação. Meu menino estava tão doente que saía pus dos olhinhos dele. Com ar de desdém, pediu que meu ex anexasse nos autos um laudo médico da criança. Ele conseguiu um laudo fajuto de coronel da PM que também que é pediatra, informando que Pedro estava com um resfriado comum infantil. No início de abril, ele me entregou a criança ardendo em febre. Os lábios estavam arroxeados, ele, sem fôlego e com os olhos muito vermelhos. Desesperada, corri para hospital mais próximo. A médica que o atendeu ouviu um ronco no pulmão dele, pediu um raio x e um exame de sangue. Meu filho foi diagnosticado com pneumonia.

Comecei a chorar feito criança no hospital, e relatei à médica que ele já estava tomando antibióticos havia quatro meses. Pedro ficou cinco dias internado, tomando medicação na veia. Depois, continuou o tratamento por mais um mês e 15 dias em casa. Avisei à justiça que manteria comigo até ele ficar completamente curado, tendo em vista que a guarda alternada estava prejudicando sua saúde. O pai dele, então, alegou alienação parental de minha parte.

Três dias depois, um oficial de justiça foi buscar o Pedro. Como não estávamos em casa, fui acusada dessa vez de me esconder da justiça. No dia 22 de maio, com essa certidão e a alegação de alienação parental em mãos, ele tomou a guarda definitiva do meu filho.
Foi o dia mais sofrido da minha vida. Ter que entregar meu menino de 2 anos nas mãos de um oficial de justiça que ele não conhecia foi a dor mais profunda que já senti.  Com o coração sangrando, vi meu filho ir embora. Ele só falava ‘mamãe volta’, enquanto chorava desesperada. Depois disso, ele ficou 24 dias, que pareceram anos, totalmente incomunicável! Não sabia nada dele. Nada.

Todos esses dias, chorei sem saber o que fazer. Até que resolvi me abrir nas minhas redes sociais, e milhares de anjos de batalha vieram me socorrer. Mulheres de todo o Brasil e até do exterior ali unidas, me apoiando, chorando comigo e lutando juntas para trazer meu filho de volta.

A repercussão e a comoção na internet foram tão grandes, até que o pai cedeu e pude ver o Pedro no dia do meu aniversário -- pedido que havia feito nos autos havia mais de 20 dias sem resposta. No dia 18 de junho, quando completei 40 anos, meu filho passou o dia comigo. Que alívio para um coração despedaçado de mãe!

Quando peguei meu filho na creche, após 24 dias sem vê-lo, percebi que seus olhos exalavam com pus novamente. Fomos à médica e Pedro foi diagnosticado com broncopneumonia de novo. Depois disso, tive que entrega-lo ao pai, que desaparecer com a criança por mais 15 dias, por causa dessa guarda unilateral concedida a ele.

Todos os dias, converso mentalmente com meu filhinho e peço que ele aguenta firme que a mamãe está chegando para resgatá-lo. Enquanto Pedro não volta para os meus braços, ajudo outras mães a conseguirem ter seus filhos de volta. São milhares de mulheres falando comigo todos os dias pelo telefone e nas redes sociais. Como sou advogada, dou dicas e orientações a essas mães. Todas tão desesperadas quanto eu. Formamos uma corrente do bem, uma fortalecendo a outra.”