Famoso por criar uma impressora em braile com peças de Lego, o estudante norte-americano de 13 anos Shubham Banerjee esteve na Campus Party em fevereiro para dividir sua experiência com os brasileiros.

Além do feito notável, parte do interesse por ele vem do fato de que a invenção recebeu aporte financeiro da Intel Capital (valor não divulgado). O fundo de capital de risco dos EUA é um braço da fabricante de processadores Intel, onde o pai de Banerjee trabalha. O investimento permitiu que o garoto abrisse uma empresa, a Braigo Labs, para criar uma impressora acessível em escala comercial.

A trajetória empreendedora de Banerjee começou em dezembro de 2013, quando uma carta pedindo doações para uma instituição que ajuda deficientes visuais despertou sua curiosidade sobre como pessoas cegas podiam ler.

Foi quando descobriu o braile e o custo alto de uma impressora capaz de escrever na linguagem, em torno de US$ 2.000 (cerca de R$ 5.600). "Eu senti que era desnecessariamente caro para alguém já em desvantagem", disse ao UOL, em entrevista por e-mail.

Na tentativa de criar um equipamento mais barato, Banerjee usou um kit Lego para montar robôs, que custa US$ 350 (quase R$ 1.000). Segundo ele, foram três semanas e sete tentativas frustradas até chegar ao modelo final. "Eu começava a trabalhar depois de fazer minha lição de casa e, em alguns dias, ficava acordado até 2h da manhã. Mas tudo isso valeu a pena", afirma.

De acordo com o consultor Renato Fonseca, do Sebrae-SP (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo), muito se pode aprender sobre negócios ao observar sua história. Veja cinco lições:

1. Comece pelo problema

Segundo Fonseca, uma empresa tem mais chances de ser bem-sucedida quando soluciona um problema do seu público. No caso de Banerjee, o menino identificou que a maioria das pessoas cegas não tinha condições financeiras para comprar uma impressora em braile. "Desde o início, ele tinha um objetivo claro, que era criar uma solução de baixo custo para esse público", diz o consultor.

2. Pesquise sobre o mercado

Quando Banerjee descobriu que os cegos liam por meio do braile, não se contentou apenas com essa informação. Ele se aprofundou na pesquisa, levantou dados que sustentavam a criação de uma impressora em braile mais barata. "Pesquisar sobre um mercado antes de entrar nele é importante para saber se haverá público para a empresa", afirma Fonseca.

3. Seja criativo

Para criar a impressora, o menino usou o recurso que tinha nas mãos: um kit Lego. Segundo o consultor do Sebrae-SP, na rotina de um negócio, o empreendedor também precisa usar a criatividade para trabalhar com os recursos disponíveis, inclusive pouco dinheiro. "Inovar não é apenas criar algo que não existia, mas também é aperfeiçoar algo conhecido ou reduzir custos de produção", afirma.

4. Peça a opinião do público

Depois de criar o protótipo de sua impressora, Banerjee pediu para que pessoas cegas testassem o produto e sugerissem melhorias. A partir dos elogios, ele soube que havia mercado para sua ideia. Da mesma forma devem agir os empresários. "Nem sempre a primeira ideia ou versão de um produto é a melhor", declara o consultor.

5. Use o networking a seu favor

Para Fonseca, o menino soube utilizar a rede de contatos do pai, engenheiro da Intel, para pedir ajuda na criação da impressora e, posteriormente, para conseguir o investimento para sua empresa. Familiares podem ajudar na rede, mas não são os únicos a quem recorrer. "Não há problema em pedir ajuda, e o empresário não deve se fechar. Quando ele tem uma boa ideia, vão surgir apoiadores", diz.