Na China, 53,5% das fotos publicadas em redes sociais foram tratadas por algum dos 23 aplicativos de beleza que a empresa desenvolve.

 Meitu, app de fotos
Trump e Obama também receberam o tratamento no app de imagens Meitu / Foto: Reprodução/Meitu

Com olhos bem grandes, pele impecável, sorriso largo e um ar de desenho animado japonês. Fotos com esse jeitão pipocam pela internet desde o fim do ano passado, e o culpado é chinês, chegou há pouco tempo ao país e pensa até em criar um app "com a cara do Brasil": é o Meitu.

A onda de tirar fotos "fofíneas" pegou tanto que o Brasil foi o mercado internacional com a melhor recepção ao serviço e já é o 7º maior país em número de usuários da companhia que, apesar de ser uma ilustre desconhecida por aqui, protagonizou no fim do ano a segunda maior abertura de capital da bolsa de Hong Kong. Mas o que explica o sucesso do app por aqui?

"Eu acho que os brasileiros estão muito preparados para qualquer tipo de aplicativo de beleza, porque a gente se conecta muito à beleza", explica Ludmilla Veloso, gerente-geral da Meitu Brasil. "A china está mais perto da gente, enquanto a gente sempre olhou para os EUA."

A empresa instalou seu escritório no país, um dos sete no mundo, em abril de 2016. Ludmilla passou os dois meses seguintes explicando aos chineses como eram mercado e consumidores brasileiros. "Do mesmo jeito que a gente olha para eles [chineses] e acha todo mundo meio parecido, eles olham pra gente e acham o mesmo", brinca Ludmilla. O trabalho deu resultado: o reconhecimento facial do aplicativo melhorou graças à diversidade de formato de rostos, olhos e traços faciais dos brasileiros.

"Como a gente tem origens diferentes, o Brasil foi o paraíso para eles fazerem os ajustes [no app] que precisavam", conta Ludmilla. Em dezembro de 2016, a executiva conta que teve um crescimento de 812% e já tem mais de 10 milhões de downloads.
 
Tanto é que a Meitu pretende planeja lançar em junho um aplicativo voltado para o público brasileiro.
 

Fora da China
 
Antes de iniciar sua internacionalização, a Meitu realizou a segunda maior oferta inicial de ações na Bolsa de Hong Kong -- levantou US$ 629 milhões, o que fez seu valor de mercado chegar a US$ 4,5 bilhões, só perdeu para o Alibaba, a maior empresa de internet da China.

A expansão começou pelos Estados Unidos. Por lá e nos outros lugares onde chegou, a empresa fez sucesso ao ser usada para transformar figuras públicas em personagens de Mangá. Foram alvo Barack Obama, ex-presidente dos EUA, Donald Trump, atual ocupante da Casa Branca, Theresa May, primeira-ministra do Reino Unido, Wladimir Putin, presidente da Rússia.

"Eu acho que todo mundo tá muito acostumado em ser zoeiro quando você é figura pública", diz Ludmilla. "Acho que todo mundo leva tudo muito de boa. é brincadeira."
 

Privacidade
 
Na China, 53,5% das fotos publicadas em redes sociais foram tratadas por algum dos 23 aplicativos de beleza que a Meitu desenvolve. Fora do país, a empresa foi alvo de críticas pedir acesso a vários dados dos usuários. A suspeita de que isso poderia colocar a privacidade das pessoas em risco forçou a empresa a dar explicações.

Segundo ela, essas informações não são requisitadas para serem vendidas. É que o app está baseado dentro da China, onde as principais lojas de aplicativo não estão disponíveis. Sem elas, a Meitu não dispõe de ferramentas de monitoramento e tenta suprir essa lacuna com informações fornecidas pelos próprios usuários.

Além da justificativa, a Meitu anunciou que pretende hospedar seus serviços em data centers nas regiões onde estão seus usuários, para fugir da censura chinesa.
 

Fotos 'fofíneas' x fotos 'chatíneas'
 
Apesar de contar com a simpatia dos fãs, as fotos "fofíneas" já ganharam uma legião de detratores, que acham as imagens infantilizadas."Não acho que isso é infantilizado, até porque foi viral no mundo inteiro. Eu acho que as pessoas gostam de coisas diferentes", diz a executiva.

"Uma coisa que tem no Facebook são os stickers, e eu não acho que eu fiquei mais infantil por usar stickers. Eu acho que, às vezes, você apenas quer mais formas de se relacionar enquanto está online", diz Ludmilla. "A língua da internet não é infantil, é uma outra maneira de se comunicar."