Gabriela vivia em Caracas, pelo Tinder conheceu Cristian que é de Porto Alegre e depois de muitos aeroportos, agora os dois vivem em Campo Grande.

Venezuelana que veio para MS por amor diz que aqui só falta a praia
Gabriela e Christian se casaram em abril de 2018 em Campo Grande. / Foto: Arquivo pessoal

Há pouco mais de um ano, a publicitária Mercedes Gabriela Martinez Trindade, 27 anos, trocou de vez a Venezuela por Campo Grande. Ela não saiu do país vizinho pelos problemas que atingem a população, mas, porque encontrou o amor em Campo Grande. Gabriela se apaixonou por um gaúcho, que vive e trabalha aqui, e o relacionamento à distância vingou como casamento.

O romance começou como muitos de hoje em dia: no Tinder. Só que o marido, o engenheiro de software, Cristian Trindade, 36 anos, instalou a versão paga do aplicativo, que permite que a pessoa indique um local para encontrar alguém, mesmo que seja em outro país. Like para lá, like para cá, os dois deram match em maio de 2015 e começaram a conversar. Depois de dois meses de conversas, ele decidiu ir até a Venezuela, com a desculpa de fazer curso de espanhol.

“Eu entendo portunhol, pois os meus avós são portugueses. Ele falou que queria fazer um curso de espanhol e eu perguntei Venezuela? Tem Chile, Argentina. Venezuela é perigosa, não tem comida”, conta Gabriela. A publicitária buscou Cristian no aeroporto e, segundo ela, foi amor à primeira vista. "Foi emocionante ver no aeroporto: Esse é o menino do Skype, porque nos falávamos por Skype e WhatsApp, mas na época não tinha chamada no WhatsApp”, diz.
Formatura de Gabriela, em 2017, em Caracas (Foto: Arquivo pessoal)
A viagem durou 10 dias por Caracas e terminou em pedido de namoro. “Ele conheceu Caracas, ficou encantado e no fim perguntou se eu queria namorar com ele. Fiquei assim... Como? Você é do Brasil e eu sou de Caracas. Mas, foi amor à primeira vista", reforça.

Outro problema para o casal é que na Venezuela não é tão fácil namorar pela internet. Como a conexão sempre falha, é necessário malabarismos para pegar o sinal.

Em agosto de 2015, a publicitária veio ao Brasil pela segunda vez na vida. A primeira foi aos 17 anos, com a tia, quando conheceu o Rio de Janeiro. “Eu vim feliz, porque já conhecia o Rio de Janeiro. Quando eu vim da primeira vez, falei: quero morar no Rio de Janeiro. Mas, Deus escutou errado. Ele disse Rio não, Campo Grande”, brinca.

Quando conheceu a família do então namorado em Porto Alegre, ela mal sabia falar português. Gabriela brinca que morou no aeroporto durante dois anos de namoro. Foi aproveitando férias da faculdade para vir ao Brasil e também conheceu Campo Grande, onde o marido trabalha hoje.

Após terminar o curso de Publicidade, a venezuelana precisou esperar nove meses para a faculdade emitir o diploma. Nesse período, veio ao Brasil e fez intercâmbio com uma faculdade do Rio Grande do Sul, onde estudou moda por um período.

“Estudava de terça à quinta. Na sexta, pegava um avião, vinha para Campo Grande e voltava na segunda. A nossa vida era aeroporto”.

O pedido de casamento veio logo depois, durante a festa de Réveillon. “Ele falou que estava apaixonado, que não conseguia ver a sua vida sem mim, que eu era muito importante para ele. Que não queria ficar mais longe de mim. Tirei a foto do anel e mandei para a minha casa na Venezuela. Minha mãe chorando, minha avó fazendo festa. Ali ficamos noivos e voltei à Venezuela para renovar o visto e para a minha formatura”, relembra.

Após conseguir o diploma, ela se mudou de vez para Campo Grande onde vive hoje com Cristian, a cadela Macarena e mais cinco gatos que o casal adotou.

Vida na Venezuela

A publicitária diz que a vida no Brasil não tem comparação com a Venezuela, nem se pensarmos nos problemas de uma metrópole como São Paulo. Comida à disposição no mercado, água e luz são coisas simples para nós, mas para quem viveu os últimos anos na Venezuela faz toda a diferença. “Eu brinco que aqui vocês só não têm praia”, diz.

Gabriela relembra que a vida na Venezuela transcorria normal há 9 anos. A família dela, por exemplo, era de classe média e tinha a possibilidade de viajar pelo menos uma vez por ano ao exterior. As compras eram feitas normalmente. As lembranças mais fortes para ela são do Natal. Mas a partir de 2010 tudo mudou.

“Tinha comida. Cinco presentes para cada integrante da família. Hoje não tem isso, porque não tem importação. Para fazer mercado, eu tinha que ir a 20 mercados e demorar até 4 horas na fila para comprar um frango. Era pelo número final do CPF. O meu CPF lá era cinco então eu só podia comprar às quintas. As quintas eu me dedicava a ir a todos os supermercados, todas às farmácias. Fazia fila de três quilômetros”.

Atualmente, a mãe dela, que é professora, recebe salário de seis dólares por mês, cerca de R$ 20.

A família é a preocupação constante de Gabriela. "Eu gosto muito de Campo Grande por isso, você vai e compra o que você quiser. Você tem luz, tem água. Mas você fica pensando: eu estou aqui tomando um sorvete e minha mãe está lá na Venezuela e não pode tomar nenhuma Coca”.

O casamento civil ocorreu em 28 de abril de 2018. Agora, o casal planeja o casamento religioso para 2019 ou 2020. Como a família é grande e está espalhada no Rio Grande do Sul, Venezuela, Espanha e Estados Unidos, a festa terá que ser planejada nos mínimos detalhes para conseguir a presença de todos.