Clima de karaokê tomou conta da primeira data da turnê na cidade

Sandy & Junior: os pontos altos e baixos do show ‘Nossa história’
Sandy e Junior fazem o primeiro show da turnê "Nossa História" no Jeunesse Arena, no Rio / Foto: Roberto Moreyra / Agência O Globo

Para fã fiel nenhum botar defeito, a turnê “Nossa história”, que reúne os irmãos Sandy e Junior no palco após 12 anos, estreou na noite desta sexta-feira, no Rio.

Apinhada com cerca de 18 mil pessoas, a Jeunesse Arena, próxima ao Parque Olímpico da Barra, testemunhou um grande karaokê coletivo que englobou boa parte dos 17 anos de estrelato da dupla que dominou o cenário pop nacional entre o fim da década de 1990 e início de 2000.

A viagem no tempo segue neste sábado, no mesmo local, e se despede com um megashow no dia 9 de novembro, no Parque Olímpico — a ideia inicial era fazer no Maracanã, mas, segundo a dupla, “não foi possível viabilizar”.

Foram cerca de 2 horas de apresentação, divididas em 30 músicas. Abaixo, listamos o que funcionou (ou nem tanto) no show desta sexta-feira. 

Nostalgia na testa

Nos arredores da Jeunesse Arena, uma confusão temporal era visível desde a chegada do público. As faixas com o nome da dupla foram um sucesso de venda pelos ambulantes, custando em média R$ 15. Eram muitas as testas adornadas por Sandy & Junior brilhantes, como acontecia há cerca de 15 anos, ou os torsos com dizeres como “não trate como imortal quem te trata como dig-dig-joy”, brincando com alguns dos sucessos dos filhos de Xororó.

Foi mais um dos tantos sinais de que ali, a idade pouco importava. O público era formado basicamente pela faixa dos 20 e muitos e 30 poucos anos, mas ninguém estava disposto a ser adulto. Era noite de voltar no tempo, ou brincar com ele. Do lado de dentro, nas lojas oficiais, camisas da turnê tinham custo de gente grande: R$ 80.

Sem dinheiro, sem festa

Problemas de conexão atrapalharam aqueles que queriam uma noite impulsionada por drinks, cerveja ou pela boa e necessária hidratação: muitos dos bares da casa não estavam com as máquinas de cartão funcionando - e assim continuaram do começo ao fim do show.

Pontualidade quase britânica

O show estava marcado para começar às 21h, e, dez minutos depois, o telão com registros da infância de Sandy e Junior ao período de estrelato pop iniciado com o disco “Quatro estações” (1999), que anuncia o início oficial da festa, já prendia a atenção do público. Teve gente atrasada, como o casal Tatá Werneck e Rafa Vitti, que perdeu as primeiras duas músicas.

Repertório sem furos

Foram 30 músicas, e só o fã mais fervoroso talvez tenha motivos para reclamar. Todos os principais sucessos de Sandy & Junior foram contemplados, do início com “Não dá pra não pensar” ao encerramento com “Vâmo pulá”, passando por “Imortal”, “Eu acho que pirei”, “A lenda”, “Desperdiçou” e até pela fase caipira, com o medley “Beijo é bom / Etc... e tal / Vai ter que rebolar / Dig-dig-joy / Eu quero mais”.

Ah, “Maria Chiquinha”, que foi citada no show que a dupla fez em Fortaleza, no último dia 19, quando Junior questionou o teor machista da canção, ficou de fora.

Problemas de som

Até as turnês mais endinheiradas são passíveis de falhas, e com “Nossa história” não foi diferente. Nas quatro primeiras músicas, “Não dá pra não pensar”, “Nada vai me sufocar”, “No fundo do meu coração” e, principalmente, “Estranho jeito de amar”, foi difícil entender o que a dupla vocal estava cantando - ou mesmo o público empolgado. A mixagem de vozes e banda estava desajustada, e só se ouvia basicamente a bateria e a guitarra.

O problema foi se ajustando, mas voltou no momento acústico-intimista, quando Sandy e Junior sentaram na beirada do palco para cantar algumas canções no esquema voz e violão: uma microfonia ia e voltada, botando em risco as audições mais sensíveis.

Banda azeitada

Já regulado o som, ficou claro que a parte musical foi prioridade num show baseado em canções eternizadas pelo imaginário popular. Discreta nos cantos do palco, a banda fez ótimas intervenções, em especial os solos de saxofone de Milton Guedes (com brilho em “Cai a chuva”), o groove do baixo de Dudinha e o teclado multi rítmico de Erik Escobar. “A gente dá certo” rendeu uma dançante jam coletiva.

Show para o público

É claro que tanto Sandy quanto Junior têm interesses comerciais na bem-sucedida turnê “Nossa história”, que já vendeu mais de 405 mil ingressos, até agora. Mas é fofo ouvir os discursos de retribuição e a prioridade aos fãs que a banda alega ter dado na construção do show.

— Está sendo uma delícia recontar essa história para vocês. Esse show só existe porque vocês pediram - disse Sandy, num dos primeiros discursos de gratidão da noite. — Uma emoção ainda maior do que a gente sonhou. O melhor de tudo é construir novas lembranças com vocês.

E funcionou. Todas as músicas foram cantadas a plenos pulmões pelos fãs que conseguiram um dos 18 mil disputados ingressos  — e também pela turma que estava trabalhando na noite, do segurança na porta do banheiro ao funcionário do bar.

Excesso de roteiro

É fácil notar, porém, que é um show extremamente calculado, com roteiro seguido à risca e nenhum espaço para improviso. Além da idolatria em si, são poucos os motivos para repetir a experiência. Até quando os irmãos cochicharam alguma coisa no pé de ouvido, no momento acústico, foi para tocar “Replay”, que já tinha passado pelo repertório em outros momentos.

Pior do que isso foram os flashmobs patrocinados: em “Quatro estações” e “Cai a chuva”, o público levantou papéis coloridos distribuídos por patrocinadores da turnê.

Brilhos artísticos

Sandy está cantando como nunca, raramente erra uma nota, e sabe comover os fãs. Mas, por momentos, Junior parece mais protagonista: ele toca guitarras, violão e bateria no show, além de estrelar um dos melhores números musicais da noite, em “Enrosca”, releitura do clássico de Fabio Jr. Ali, Junior ainda se desdobrou como dançarino e ator de musical.

Cenografia na medida

Tem pirotecnia, tem chuva de papel picado, e todas essas demandas com que megashows pop de arena passaram a contar nos últimos anos. Mas destaca-se em “Nossa história”, também, a cenografia, a iluminação, os telões e projeções dirigidos por Raoni Carneiro. Tem, claro, nostalgia, com elementos clássicos da iconografia da dupla, mas trazendo também um ar moderno, com sobreposição de imagens e letras de canções, cores bem dosadas e conceito definido. 

Um acerto, assim como a participação do balé de 15 dançarinos, que entrava para estimular as coreografias clássicas para o público — no intervalo entre um vídeo de Instagram e outro.

Setlist

"Não dá pra não pensar"

"Nada vai me sufocar"

"No fundo do coração"

"Estranho jeito de amar"

"Olha o que o amor me faz"

"Nada é por acaso"

"Love never fails"

"As quatro estações"

"Aprender a amar"

"Imortal"

"Libertar"

"Eu acho que pirei"

"Beijo é bom / Etc... e tal / Vai ter que rebolar / Dig-dig-joy / Eu quero mais"

"Enrosca"

"A gente dá certo"

"Você pra sempre (Inveja)"

"Ilusão"

"Não ter"

"Era uma vez"

"Replay"

"Inesquecível"

"Super-herói"

"A lenda"

"Cai a chuva"

"Quando você passa (Turu turu)"

"Desperdiçou"

"Vamo pulá"