Prisão de Berlim usa gatos para ensinar empatia a detentos
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A Penitenciária de Tegel, no norte de Berlim, a maior e mais antiga da Alemanha, iniciou um programa pioneiro de reabilitação dos piores criminosos com a ajuda de animais domésticos. Segundo Martin Riemer, diretor da prisão, já depois dos primeiros contatos com gatinhos os criminosos da ala de “prisão preventiva” — que mesmo depois do cumprimento da penalidade permanecem presos porque são considerados ainda perigosos para a sociedade — começaram a apresentar “sinais de competência social”.

— Assumindo a responsabilidade pelos animais, os detentos começam a apresentar sinais de reabilitação, adquirindo mais consideração e empatia com os outros, paciência e mais disposição à tolerância em reação às frustrações — afirma Riemer.

Por enquanto, apenas os detentos da ala destinada aos criminosos mais perigosos da prisão com capacidade para abrigar 1.325 homens participam do programa da convivência com os gatinhos. Esses detentos são assassinos ou estupradores de mulheres e crianças. Alguns têm mais de 70 anos de idade, mas nem por isso são considerados menos perigosos.

Segundo a psicóloga alemã Hedwig Eisenbarth, há diferentes níveis de psicopatia e nem todos os “psicopatas” terminam um dia na prisão ou em um chamado “manicômio judiciário”. Mas a característica comum em todos os níveis é a falta absoluta de empatia, capacidade de se colocar no lugar do outro, que torna uma pessoa capaz de um homicídio ou de delitos sexuais.

— Nem todos os criminosos são psicopatas, mas em média 20% dos detentos condenados a longas penalidades são psicopatas — diz a psicóloga.

Para ela, os criminosos que continuam sendo vistos como perigosos mesmo depois de décadas na cadeia são psicopatas. As causas vão da predisposição genética a experiências de trauma e de falta de afeto na infância e adolescência.

Alguns detentos de Tegel, presos há mais de 20 anos, afirmaram sentir pela primeira vez algo como o “amor ao próximo” ao acariciar os gatinhos. Atualmente, 41 detentos participam do programa reabilitação através do contato com animais.

NOVOS ANIMAIS EM ESTUDO

Os portões da prisão, em funcionamento desde 1898, foram abertos apenas para gatos. Mas Martin Riemer planeja trazer outros animais para ajudar a despertar sentimentos mais humanos entre os criminosos, o que, segundo ele, vai depender dos (bons) resultados da experiência com os felinos.

A presença de gatos na prisão é motivo de controvérsia entre os detentos. Entrevistado pelo jornal “Tagesspiegel”, um homem preso há mais de 25 anos exigiu liberdade para os gatinhos de Tegel.

No novo bloco de Tegel, os detentos dispõem ainda de uma quadra de esportes, sala de computadores (sem internet) e telefone e geladeira na própria cela. Mas a diretoria recusou com veemência uma reivindicação dos detentos de liberdade de consumo de cerveja. Apesar do novo conforto e da companhia de animais, os presos não devem esquecer que estão em uma prisão e não em um hotel, disse Martin Riemer.