Deposição, expulsão, humilhação e prisão são as rimas com as quais Maduro está tendo que conviver neste seu 'annus horribilis'.
O Mar do Caribe voltou mais de um século no tempo este ano, com a presença de uma frota naval de altíssimo poder de fogo despachada por uma grande potência para assombrar e, em última instância, depor o líder de outro país — prática do século XIX que ganhou o nome de “diplomacia das canhoneiras”. Nesta versão, são os Estados Unidos que mantêm nas águas turquesas logo acima do continente seu maior porta-aviões, diversos outros barcos de guerra e 15 000 soldados encarregados de atirar para matar contra barcos supostamente carregados de drogas — o que têm feito com chocante frequência — para, na explicação oficial, combater o narcotráfico internacional e seu grande chefe, Nicolás Maduro, ditador da Venezuela, contra quem Donald Trump já pronunciou nada veladas ameaças de deposição à força. Há doze anos no poder, Maduro convocou militares e milícias civis para a defesa e esperneia, com gestos grandiosos e apelos em inglês macarrônico, para convencer Trump a encerrar a operação caribenha — que, ampliada, também passou a apreender petroleiros transportando o produto vital para a sobrevivência econômica da Venezuela.
Está em jogo, nesse espetáculo de intimidação (que inclui a autorização de ações da CIA em território venezuelano), a intenção da Casa Branca de cravar sua marca ou sua proteção, no jargão oficial no “nosso hemisfério”, como proclamou o secretário da Defesa, Pete Hegseth.
Fortalece essa intenção a atraente possibilidade de empresas americanas voltarem a explorar as imensas reservas de petróleo venezuelano no caso de afastamento de Maduro, déspota da ala esquerdista que permaneceu no cargo mesmo tendo perdido a eleição no ano passado e que trata a ferro e fogo qualquer sopro de oposição.
Para mal de seus pecados, a maior líder oposicionista do país, María Corina Machado, ganhou o Nobel da Paz de 2025 e, de surpresa, reapareceu em Oslo apoiando plenamente as ações americanas no Caribe, depois de viver um ano escondida em seu país. Deposição, expulsão, humilhação e prisão são as rimas com as quais Maduro, cantor nas horas vagas, está tendo que conviver neste seu annus horribilis.