Pelo menos 70% dos familiares rejeitam doar os órgãos de um parente falecido após a constatação da morte encefálica. Essas 428 pessoas esperam por quatro corações, 147 rins e 277 córneas.

MS tem 428 pessoas na fila de transplante de órgãos
Transplantes diminuíram ainda mais com pandemia. / Foto: Divulgação/Santa Casa de Campo Grande

Mato Grosso do Sul tem 428 pessoas na fila de espera para um transplante de órgãos, segundo a Central Estadual de Transplantes, vinculada à SES (Secretaria de Estado de Saúde). O que dificulta a redução desse número é a recusa das famílias quanto à doação.

Pelo menos 70% dos familiares rejeitam doar os órgãos de um parente falecido após a constatação da morte encefálica. Essas 428 pessoas esperam por quatro corações, 147 rins e 277 córneas.

A pandemia de covid-19 só agravou a situação. “Muitas vezes tinha um potencial doador de órgãos e tecidos, e o resultado do teste de covid dava positivo. Algumas vezes tínhamos o doador e não tinha leito disponível para realizar o transplante. Outras vezes o receptor que ia receber o transplantes estava com covid. Tivemos alta na negativa familiar. As famílias ansiosas e com medo da doença, negavam fazer a doação. Foram vários fatores que fizeram com que o processo fosse prejudicado', explicou a coordenadora estadual da Central de Transplantes, Claire Miozzo.

Para se ter uma ideia, de janeiro a agosto deste ano foram realizados transplantes de um coração, sete rins e 91 córneas. No mesmo período do ano passado foram três corações, 17 rins e 80 córneas.

De acordo com a ABTO (Associação Brasileira de Transplante de Órgãos), 67% dos brasileiros têm o desejo de doar órgãos, mas apenas metade já avisou a família. A campanha Setembro Verde deste ano reforça a importância de avisar a família sobre a decisão.

Ainda conforme a ABTO, para ser um doador de órgãos e tecidos para transplante, pela legislação vigente, nenhuma declaração em vida é válida ou necessária. Não há possibilidade de deixar em testamento, não existe um cadastro de doadores de órgãos e nem são mais válidas as declarações nos documentos de identidade e carteiras de habilitação e nem as carteirinhas de doador. A entidade defende que aquele que deseja ser doador deve discutir o assunto, em vida, com os familiares.