Operação cumpre mandados em Campo Grande e Dourados; armas e máquinas do jogo do bicho também foram recolhidas.
O Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), apreendeu mais de R$ 300 mil durante a operação deflagrada na manhã desta terça-feira (25) contra alvos ligados à família Razuk. A ação, realizada em conjunto com o Batalhão de Choque da Polícia Militar, também resultou na prisão de três familiares do deputado estadual Neno Razuk (PL).
Foram detidos o pai do parlamentar, Roberto Razuk, e os irmãos Rafael Razuk e Jorge Razuk. Segundo informações, além do montante em dinheiro, equipes recolheram armas, munições e máquinas supostamente usadas para registrar apostas do jogo do bicho.
Os materiais foram apreendidos durante o cumprimento dos 20 mandados de prisão preventiva e 27 de busca e apreensão executados hoje em Campo Grande, Dourados, Corumbá, Maracaju e Ponta Porã, além de endereços no Paraná, Goiás e Rio Grande do Sul.
Em Dourados, viaturas foram vistas logo cedo em bairros como Jardim Água Boa e Vila Planalto. A residência de Roberto Razuk foi um dos principais pontos de ação, onde agentes recolheram malotes.
Outro alvo da operação é Sérgio Donizete Balthazar, empresário e aliado político, proprietário da Criativa Technology Ltda., que no início deste ano ingressou no Tribunal de Justiça com mandado de segurança para tentar suspender a licitação da Lotesul, estimada em mais de R$ 50 milhões.
Também aparecem entre os alvos o escritório de Rhiad Abdulahad e Marco Aurélio Horta, conhecido como “Marquinho”, chefe de gabinete de Neno Razuk e funcionário da família há cerca de 20 anos.
Até o momento, o MPMS não detalhou o procedimento que originou a operação. A família Razuk, entretanto, já foi alvo de apurações relacionadas ao jogo do bicho em Mato Grosso do Sul. A ação desta terça-feira é tratada pelo Ministério Público como uma nova fase dessas investigações.
A operação segue em andamento. O MPMS deve divulgar mais informações ao longo do dia.
HISTÓRICO
Roberto Razuk, 84, é ex-deputado estadual por Mato Grosso do Sul e figura conhecida na política e no setor empresarial do Estado. Filho de imigrantes libaneses de origem turca, atuou por duas legislaturas na Assembleia Legislativa, entre 1987 e 1995, eleito inicialmente pelo PFL e, depois, reeleito pelo PDT. Com forte base eleitoral em Dourados, contribuiu para a criação da UEMS e do Departamento de Operações de Fronteira (DOF).
A trajetória política é marcada também por investigações e condenações. Em 1995, o Ministério Público apontou que o empresário obteve financiamento de R$ 3,5 milhões do Banco do Brasil com garantia de uma fazenda inexistente em Ladário, caso que resultou, em 2003, em condenação a 20 anos de prisão por falsificação de documentos e fraude financeira. Razuk chegou a ser preso novamente em 2007 durante a Operação Xeque-Mate, da Polícia Federal, contra o jogo do bicho e máquinas caça-níquel.
É casado com Délia Razuk, ex-prefeita de Dourados, e pai do deputado estadual Neno Razuk (PL), Rafael Razuk e Jorge Razuk.
FASES
Em outubro de 2023, antes das fases da Successione, a Polícia Civil fez uma apreensão de 700 máquinas da contravenção, semelhantes a máquinas de cartão utilizadas diariamente em qualquer comércio, sendo facilmente confundidas.
As prisões foram desencadeadas a partir da deflagração das fases da Operação Successione, que começou no dia 5 de dezembro de 2023. Na ocasião, foram cumpridos 10 mandados de prisão e 13 mandados de busca e apreensão. Foi nesta fase que os ex-assessores parlamentares de Neno Razuk foram pegos.
Duas semanas depois, no dia 20 de dezembro, foi deflagrada a segunda fase da operação, com o cumprimento de 12 mandados de prisão e 4 de busca e apreensão. Ela foi realizada após investigações do Gaeco apontarem que a organização criminosa continuou na prática do jogo do bicho, além de concluírem que policiais militares também atuavam nesta atividade.
No dia 3 de janeiro do ano passado, chegou a vez da terceira fase da operação, com mais dois envolvidos presos pela contravenção na Capital.
A disputa pelo controle do jogo ilegal em Campo Grande se intensificou após a prisão de Jamil Name e Jamilzinho, durante a Operação Omertá, em 2019, que eram apontados pelas autoridades como os donos do jogo do bicho em Mato Grosso do Sul.
Quatro anos depois, Jamil Name Filho foi condenado a 23 anos de reclusão, após um julgamento de três dias.
O termo italiano “Successione” que dá nome a operação, é uma referência a disputa pela sucessão do jogo bicho em Campo Grande após a operação Omertá.