Por mais que pareça, longevidade não resume-se à biologia: é resultado de escolhas individuais e coletivas

Fase idosa, velhice, terceira idade, melhor idade. Não tem como celebrar o Dia Nacional e Internacional da Pessoa Idosa, em 1° de outubro, sem pensar nos fatores que contribuem para associar tal etapa como superior às demais. Toda idade é boa, mas essa tem o direito de ser a melhor.
Isso porque, na verdade, o conceito de longevidade não se limita ao tempo vivido, mas refere-se à qualidade desse período. No fim, a velhice nada mais é do que a soma de hábitos e comportamentos adotados em cada uma das fases anteriores.Além disso, com o passar do tempo, a expectativa de vida e, consequentemente, o número de pessoas idosas, tem crescido em todo o Brasil, inclusive em Mato Grosso do Sul. Muito disso se dá pela mudança no estilo de vida da população.
De acordo com Marcos Belini, médico geriatra, as pessoas têm se tornado cada vez mais cuidadosas com a saúde quando comparado a anos atrás. “Quando a gente tem uma cultura e um olhar no sentido de viver melhor e envelhecer melhor, a gente vai colher os frutos lá na frente. Isso tem uma relação muito grande com as duas questões: a física e a psíquica-mental”, afirma.
Dicas para um envelhecimento saudável:
Ainda, Marcos comenta que o ‘envelhecer bem’ não está só ligado ao cuidado físico e mental. A vida saudável conecta-se com diversos fatores além da alimentação e prática de atividades físicas.
“Se você tiver um corpo saudável através de uma alimentação regular, sem excessos, e atividades físicas regulares associadas a uma mente boa, já é um começo. Se você se sente bem na sociedade, tem um propósito, um ciclo de amizades ou de pessoas que te façam se sentir bem, não tenha dúvidas de que você vai envelhecer muito melhor do que o grosso da população”, destaca.
Alimentação adequada: uma alimentação regrada e com comida de verdade, como proteínas, carboidratos, frutas, verduras e legumes, é essencial para uma qualidade de vida. Também é importante reduzir o consumo de gordura e açúcares.
Atividade física regular: a prática é necessária para manter uma boa musculatura e preparar o corpo para um envelhecimento pleno.
Saúde mental em dia: cuidar da mente, ter um propósito de vida e boa socialização são necessários para envelhecer também com boas relações.
Cuidados médicos: de acordo com Marcos, quanto mais velho o paciente é e mais debilitado ele aparenta estar, maior a importância de procurar profissionais específicos e realizar exames de rastreamento para possíveis doenças.
Políticas públicas para a terceira idade
Por mais que pareça, longevidade não está associada apenas à biologia: é resultado de escolhas coletivas. Assim, os anos de vida também tendem a aumentar, especialmente, quando políticas públicas funcionam de maneira articulada.
Segundo Eduardo Ramirez Meza, cientista social, além dessa ‘atuação em rede’ – composta por saúde, assistência, educação, cultura e mobilidade – a garantia dos direitos dos idosos também contribui e amplia autonomia, pertencimento e saúde mental.
Além disso, o especialista destaca que viver mais não é só ter acesso a bons serviços: é o acúmulo de vantagens e desvantagens ao longo da vida. A interseccionalidade como aspecto determinante não pode deixar de ser considerada.
“Mulheres vivem mais, porém chegam com menos renda e maior carga de cuidado. Homens pobres e não brancos morrem mais cedo por violências e agravos evitáveis. Pessoas negras, indígenas e LGBTQIA+ enfrentam barreiras de acesso e redes de apoio mais frágeis”, afirma.
Muito além de oferecer educação, trabalho, saneamento e saúde, é preciso que haja democratização das ações. Entre as medidas indicadas por Eduardo, ele aponta que é preciso regionalizar a oferta, capilarizar a atenção primária, enfrentar o racismo estrutural, apoiar cuidadores e investir em vacinação, controle de viroses e urbanismos do cuidado. “Onde essas peças se articulam, a longevidade deixa de ser privilégio e vira política de Estado; onde faltam, os anos até aumentam, mas a qualidade não acompanha”, conclui.
Pessoas idosas em MS
Segundo o Painel das Pessoas Idosas, desenvolvido pelo OCMS (Observatório da Cidadania de Mato Grosso do Sul), o número de idosos no Estado saltou de 239,3 mil para 391,1 mil entre 2010 e 2022.
Em nível estadual, Campo Grande apresentava, em 2022, o maior número de população idosa, com 134.369 indivíduos. Ainda, a capital aparecia seguida dos municípios mais populosos de MS: Dourados (31.968), Três Lagoas (17.058) e Corumbá (13.036).
Além disso, tratando-se de porcentagem, cerca de 14,2% dos sul-mato-grossenses correspondia à população idosa no mesmo ano. Em contraponto, diferente do número absoluto, no interior do Estado, Jaraguari lidera a lista com maior porcentagem de idosos, enquanto Campo Grande surge apenas na 36° posição.
O cientista social Eduardo explica que a tendência é que entre gente jovem em capitais e cidades grandes. Assim, a base ‘rejuvenesce’ e a porcentagem de idosos dilui mesmo que o número bruto continue alto. “Proporção e número absoluto contam histórias diferentes. Municípios pequenos tendem a ter saída de jovens (migração para estudar e trabalhar em polos maiores) e envelhecimento no lugar (idosos permanecem), o que eleva a fatia de 60+ na população total”, comenta.