Alunos relatam dificuldade na aprendizagem durante o revezamento entre o presencial e o on-line.

Ensino híbrido avança, mas falta de suporte é desafio para escolas

Alunos, pais e poder público concordam que as aulas escalonadas são um avanço para o sistema educacional se comparadas com o ensino remoto, porém, a falta de suporte neste novo modelo é um desafio a ser superado.

A queda no contágio da Covid-19 e o avanço da campanha de vacinação permitiram a liberação da volta dos estudantes às escolas, contudo, como a situação ainda exige medidas de distanciamento, foi preciso reduzir a quantidade de alunos por sala. 

Cada turma foi dividida em duas – ambas realizam o revezamento no ensino presencial semanalmente, e quem está no on-line precisa desenvolver atividades nos dias em que estiver em casa.  

O problema é que se surgem dúvidas quando o estudante está longe dos professores não há quem as resolva prontamente. É preciso esperar até chegar a vez de ir até a escola e falar pessoalmente com os educadores para obter ajuda e sanar as dificuldades.

Milena Silva, 18 anos, é aluna do terceiro ano do Ensino Médio na Escola Estadual Joaquim Murtinho. Ela tem pela frente não apenas o desafio de recuperar o tempo perdido que o ano de 2020 causou em sua formação, mas também se preparar para o Exame Nacional de Ensino Médio (Enem).  

“Eu acredito que tudo seja uma adaptação. Está difícil, mas seguimos em frente. Eu não sou muito boa em matemática e essa ajuda faz muita falta. Eu tenho que esperar a semana toda para encontrar o professor e perguntar o que preciso', explicou, durante a saída da escola na manhã de ontem.  

Contudo, só a oportunidade de conversar pessoalmente com o educador, mesmo que com uma frequência menor do que antes da pandemia, já faz a modalidade escalonada ser melhor do que a anterior. 

“Por mais que o ensino não esteja tão bom como antes, o apoio psicológico que estamos recebendo também é muito positivo, especialmente para colegas que perderam familiares por conta da Covid-19', afirmou Milena.

Segundo ela, outro ponto a se considerar em relação a essa forma de organização das aulas presenciais é que o professor tem de ministrar exatamente o mesmo conteúdo para os dois grupos de alunos. “Então acaba ficando um pouco engessado, porque ele não pode avançar no conteúdo', disse.

Dessa forma, mesmo que o grupo não tenha dificuldades em determinada disciplina, não consegue ir além do que o previsto. Erika Joaquim, 17 anos, compartilha das mesmas opiniões.

 Aluna do segundo ano, ela afirma que em casa aprende menos e que a oportunidade de ter aulas no mesmo ambiente que o professor, em vez do contato intermediado pela tela do celular, é muito boa e compensatória.

“Claro que essa falta de suporte quando estamos em casa faz falta, mas essas duas semanas foram muito boas', afirma.

Karine Prieto, 16 anos, está no primeiro ano do Ensino Médio, também na Escola Estadual Joaquim Murtinho. Ela disse que o ano de aulas remotas fez com que os alunos valorizassem a educação presencial e a escola como espaço de aprendizagem.

“Agora, na semana em que estamos aqui, temos a chance de perguntar. Em casa, quando temos dúvida, não', disse à equipe de reportagem.  

Outro ponto é que fora do ambiente escolar, que é propício para garantir o ensino-aprendizagem, muitas vezes o aluno acaba fazendo outras coisas voltadas ao lazer do que estudando de fato. “Dá mais preguiça de fazer as atividades', completa a estudante.

Aprendizado
A fisioterapeuta Cláudia Regina Loureiro, 44 anos, tem um filho de 16 anos na Escola Estadual Severino de Queiroz. Para ela, o ensino escalonado garante que pelo menos na metade do que resta do ano letivo os alunos estarão aprendendo.

“No caso do meu filho, a escola dele funciona em período integral. Acho que eles poderiam ter separado as turmas e aberto em dois turnos a escola. Ou seja, em vez de ir semana sim, semana não, ir um grupo de manhã e o outro à tarde todos os dias', opinou.  

Segundo ela, o filho e os colegas já montaram um grupo de WhatsApp e combinaram de a cada semana em casa um deles fazer as atividades e postar no espaço para que os demais copiem e todos entreguem o que foi pedido. “Adolescente não faz atividade on-line. Sempre tem quem gosta mais de estudar e outros que gostam menos', frisa.

Contudo, na opinião dela é melhor desta forma do que da antiga. “Pelo menos na semana em que o meu filho está na escola eu tenho certeza de que ele está assistindo às aulas, porque, quando está em casa, pais e mães normalmente trabalham e não estão de olho no que eles estão fazendo, especialmente o meu, que estuda na base da pressão', acredita.

A doutora em Educação Ângela Maria Costa acredita que é impossível continuar com o ensino remoto em um País que não investiu em internet e linhas para sustentar esse ensino. 

“Os alunos de escola pública não têm condições de ficar aprendendo com celular da mãe. O remoto, esquece. A modalidade escalonada, por enquanto, é o que vai valer. O professor tem que dar uma excelente aula e acompanhar o aluno nas tarefas que ele vai fazer na próxima semana, mas não é deixando por conta dele', pontua.

Segundo ela, o professor não é o centro do saber, mas ele orienta. Ele dá a teoria e mostra como o estudante pode reforçar esse aprendizado. “Pais não são professores e a escola precisa colocar isso na cabeça. Ela vai ter que resolver essa questão. Se vai passar tarefa, as crianças têm que conseguir fazer', afirma a doutora em Educação.

Além disso, segundo ela, é preciso apresentar aos estudantes uma possibilidade de busca e pesquisa, mas sem se esquecer de que a escola tem obrigação de oferecer uma educação de qualidade.

“O que eu tenho visto é muita escola colocando nas costas de pais essa responsabilidade. Pessoas que muitas vezes não têm nem estudo', pontua. “No máximo, os pais têm que organizar horários e ambientes para a criança estudar', complementa Ângela.

A gerente financeiro e mãe de aluno Roseli Moraes Honório, 52 anos, concorda com a especialista. “É ruim para o aprendizado dos alunos ir uma semana e na outra fazer as atividades sem um orientador', frisa.