Vara da Infância quer mapeamento das famílias que abandonaram os pacientes. MP instaura medidas de proteção.

Em Dourados, 10 crianças índias vivem abandonadas em hospitais
Juiz Zaloar reúne orgãos de proteção para que pacientes tenham convívio familiar. / Foto: Hédio Fazan

Abandonadas por familiares, pelo menos 10 crianças indígenas vivem em hospitais de Dourados. É o que constatou a Vara da Infância e Juventude em levantamento realizado no mês de junho. De acordo com o juiz Zaloar Murat Martins, tratam-se de crianças entre 05 e 12 anos com doenças neurológicas, como a paralisia cerebral. Oito delas estão na Casai e duas no Hospital da Missão. Uma delas está há 9 anos internada.

Segundo o magistrado, esses pacientes são pessoas com deficiência e dependência de cuidados médicos permanentes, mas é dever da família acompanhar, para que não cresçam sozinhas dentro dos hospitais.

Por isso, Zaloar tem mobilizado a Secretaria Especial de Saúde Indígena, Secretaria de Saúde de Dourados, Secretaria de Assistência Social e Ministério Público para encontrar alternativas para evitar que essas crianças vivam de forma institucionalizada e longe do convívio familiar.

A Promotoria da Infância, através do promotor Luiz Gustavo Terçariol já solicitou medidas protetivas para todas as crianças, o que faz com que haja uma união de esforços para garantir a convivência familiar, que é um direito fundamental de crianças e adolescentes garantido pela Constituição Federal (artigo 227) e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). No artigo 19, o ECA estabelece que toda criança e adolescente tem direito a ser criado e educado por sua família e, na falta desta, por família substituta.

O direito à convivência familiar e comunitária é tão importante quanto o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito e à liberdade.

Prova disso é que a constituição diz que a "família é a base da sociedade" (art. 226) e que compete a ela, ao Estado, à sociedade em geral e às comunidades "assegurar à criança e ao adolescente o exercício de seus direitos fundamentais" (art. 227).

Saída

Vara da Infância, Ministério Público e entidades de proteção vão começar a mapear as famílias dessas crianças para que possam conviver com elas. No Hospital da Missão, uma ala especial para esses pacientes está sendo discutida para que pacientes e família possam estar juntos.

O coordenador da Sesai, Fernando de Souza, disse que vários são os aspectos que contribuem para esse abandono e que vão desde situações culturais a econômicas, em que muitas mães acabam se distanciando do filho doente para poder cuidar dos demais. Ele disse que a Sesai está a disposição do Judiciário para ajudar no que for preciso.