De "clube do futuro", Paraná para no tempo e vive drama
Paraná já não conta mais com a vitória na briga judicial pela posse da Vila Capanema, e negocia troca por estádio novo. / Foto: Guilherme Moreira / PGTM Comunicação - Especial para o Terra

Quando surgiu em 19 de dezembro de 1989, fruto da fusão entre Pinheiros e Colorado, o Paraná Clube dizia no hino o que era: "Já nasceste gigante..". O lema dessa potência paranaense, que teve a hegemonia do Estado nos anos 90 e figurou por 15 anos seguidos na Série A, era de ser o "clube do futuro". Algo que, finalmente, a atual diretoria admite não ser mais, com o clube se perdendo no tempo na virada do século.

"O Paraná não acabou. Mas aquele clube do futuro, clube milionário, clube acima da média, este não existe. A concorrência acordou, nós ficamos parados na década de 1990, gozando de meia dúzia de títulos estaduais e campanhas medianas no Campeonato Brasileiro. Depois, eles evoluíram e nós ficamos para trás", admite Rubens Bohlen, presidente paranista, rebatendo a declaração do gerente de futebol, Marcus Vinícius, após o clássico de domingo contra o Atlético-PR.

O rombo é enorme. Apesar de não expor publicamente, a dívida do clube está em aproximadamente R$ 60 milhões. "Contratamos uma empresa especializada para fazer o levantamento total dessa dívida e posso afirmar que corresponde a menos de um terço do nosso patrimônio", garante o mandatário tricolor.

Patrimônio, inclusive, é uma das justificativas do vice-presidente Aldo Coser para dizer que o Paraná nunca vai acabar. "Se o clube vender uma sede, paga todas as dívidas e ainda monta um time bom", aposta o dirigente, em entrevista à Gazeta do Povo.

A história, entretanto, o desmente. Em 1998, a sub-sede no Jardim Botânico, que poderia estar rendendo lucro mensal por aluguem ou arrendamento, foi vendida por um valor irrisório para uma rede de hipermercado. Já em abril de 2013, a sub-sede do Tarumã foi a leilão e acabou arrematada por R$ 30 milhões. Na época, a direção prometeu que as dívidas seriam sanadas e a perda desse patrimônio seria um marco na história, colocando o clube novamente nos eixos. Algo que não ocorreu, com a solução virando problema. Quase dois anos depois, o panorama segue crítico.

Funcionários não recebem há sete meses - mesmo período que jogadores experientes, como o goleiro Marcos e o meio-campista Lúcio Flávio. Os atletas do atual elenco também sofrem com as pendências salariais, passando de três meses. "A gente está até acostumado em não receber, mas o cenário agora é pior que antes. Pelo menos existiam promessas de pagamento, agora nem esperança temos. Eles (diretores) apenas somem sem dar satisfação", reclama um funcionário que está no Paraná há 10 anos.

Diferente de outras vezes, a diretoria não culpou nas entrelinhas a torcida paranista, que há anos vem diminuindo sua presença na Vila Capanema. A mudança para um futuro melhor depende dela. "Muitos colocam a culpa na torcida, mas torcedor paranista, saiba, a responsabilidade não é sua. Nosso único pedido neste momento é que continuem indo aos jogos, não só pelo resultado, mas pelo orgulho de vestir nosso manto sagrado em campo. Nosso amor nos levará a triunfarmos", completa Bohlen.

Torcida quer venda de patrimônio

Em julho do ano passado, a organizada Fúria Independente expôs a crise financeira do clube mais uma vez. O título do comunicado era semelhante ao discurso recente do gerente de futebol: “E você, vai deixar o Paraná acabar?”.

A entidade pedia a venda da sede da Kennedy, mas com a unificação dos sócios do social e do futebol, o local começou a ser bastante frequentado, principalmente neste verão. O problema dessa questão é que essa sede é a única que ainda pode trazer lucro ao clube, já que o restante está com alguma pendência judicial.

Confira a situação das sedes abaixo:

Ninho da Gralha: o CT das categorias de base do Paraná, apesar de ter melhorado a estrutura nos últimos dois anos, segue com os campos péssimos – no qual é rejeitado pelos treinadores do profissional que passam e não querem treinar lá. É sabido de que os funcionários passam dificuldades e lá é o último lugar a receber salários quando entra dinheiro no clube – isso quando recebe. O local foi colocado como garantia no acordo com Léo Rebello, que não foi cumprido e existe o risco de perdê-lo. A antiga parceira, Base, entrou na Justiça e conseguiu o direito do local não poder ser usado para esse fim. A direção paranista já chegou a firmar contrato com o CT Barcellos para ser o “novo CT” por quatro anos, prevendo a perda do patrimônio em breve. A mudança definitiva deve acontecer até o final do Campeonato Paranaense.

Vila Capanema: a briga judicial envolvendo o Paraná e a União está perto de chegar ao fim. Há dois anos, a diretoria paranista negocia com a Prefeitura uma troca: o espaço, no qual o governo municipal tem interesse, por um estádio novo onde está situado o Estádio Erton Coelho Queiroz, a Vila Olímpica, na desistência da ação do Durival Britto e Silva. As negociações, entretanto, esfriaram e o otimismo já não toma mais conta da diretoria.

Kennedy: bem localizada, a sede social é o local no qual os sócios olímpicos desfrutam da estrutura oferecida para a prática de outros esportes. Por outro lado, o local possui alguns espaços ultrapassados e teve um espaço dos salões arrendado por 20 anos, com o Paraná recebendo R$ 1 milhão por ano. É a única que ainda não tem embróglio judicial.

Vila Olímpica: atual Centro de Treinamento do futebol profissional, o estádio também possui estruturas ultrapassadas e foi readequada em 2012 a pedido do então técnico Ricardinho. Mesmo com a melhora, carece de inúmeras benfeitorias e está penhorada no momento – assim como a sub-sede social do Boqueirão, do outro lado da rua.

Litoral: o Paraná ainda possui um terreno de uma quadra em Guaratuba, no litoral paranaense. Até pouco tempo atrás ninguém sequer sabia onde era, mas um estudo junto à Prefeitura da cidade fez com que fosse descoberto. O valor do local, contudo, é pequeno.