Operação da PF e da Receita mobilizou 50 servidores nesta terça-feira para desmantelar esquema de contrabando de cigarros paraguaios.

Um grupo de 40 policiais federais e dez auditores e analistas da Receita Federal foi às ruas de pelo menos três cidades de Mato Grosso do Sul e duas em Mato Grosso para desmantelar um esquema de contrabando de cigarros da região de Pedro Juan Caballero, no Paraguai, para Mato Grosso.
Conforme informações da Receita Federal, foram cumpridos dez mandados de busca e apreensão em endereços ligados a uma família que havia montado uma ampla logística para levar os cigarros principalmente a cidades como Rondonópolis e Cuiabá.
Antes de chegar a Mato Grosso, os cigarros eram armazenados em entrepostos nas cidades de Ponta Porã, Dourados e Nova Alvorada do Sul, de onde, posteriormente, eram distribuídas por meio rodoviário aos compradores.
O grupo é composto por pessoas com vínculos bastante próximos, numa espécie de “negócio familiar”. O líder tem como braço direito sua mulher, que prestava apoio logístico e atuava até batedora de cargas.
A mãe do líder do grupo foi usada para abertura de conta bancária, visando movimentar dinheiro em prol do grupo, e para ocultação dos bens adquiridos com os recursos ilícitos.
Já o pai deste chefe atuaria como gerente de uma loja, em nome de sua companheira, supostamente utilizada como entreposto pela organização criminosa e para dissimular a origem da fonte da renda familiar.
Além disso, o grupo contava com motoristas e batedores. Esses eram responsáveis por atravessar a fronteira com as cargas, levando-as até Dourados, onde seriam recolhidas e mantidas em residências até que fossem carregadas em veículos e destinadas a outros pontos da cadeia logística, explica nota da Receita Federal.
NEGÓCIO GIGANTESCO
Pesquisa do instituo Ipec e divulgado pelo Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP), revela que o consumo de cigarros contrabandeados em Mato Grosso do Sul caiu nos últimos anos, mas o Estado ainda é líder disparado no consumo do produto de origem ilegal.
Em 2020, conforme a pesquisa do Ipec, 84% de todo o cigarro consumido em Mato Grosso do Sul era fruto de contrabando. Em 2022, de acordo com o mesmo levantamento, este percentual recuou para 75%. Na média nacional, o volume de consumo de produto ilegal é da ordem de 50%.
E, além de liderar o consumo, o Estado também lidera o ranking das apreensões, com quase um terço de tudo o que é apreendido no país.
A principal explicação para isso é a localização geográfica do Estado, que tem mais de 1,5 mil quilômetros de fronteiras, sendo a maior parte com o Paraguai. E conforme o estudo, o crime movimentou R$ 326 milhões somente no que se refere ao consumo local.
De acordo com o Ipec, a estimativa de evasão fiscal no estado, levando em conta apenas o ICMS, foi de R$ 94 milhões em 2022.
No Brasil, os impostos sobre o cigarro variam entre 70% e 90%, dependendo do Estado. Já no Paraguai, o cigarro é taxado em apenas 13% -- uma grande vantagem competitiva para os contrabandistas.
O Paraguai produz, em média, 71 bilhões de cigarros por ano e só consome 2,3 bilhões. A maior parte do restante entra no Brasil por meio do contrabando. Horácio Cartes, que foi presidente do Paraguai entre 2013 e 2018, é proprietário da maior parte das fábricas de cigarros do país vizinho.