Construção de centro de recuperação de presos gera polêmica no Noroeste

O projeto da Apac (Associação de Proteção e Assistência aos Condenados) que prevê a construção de um centro de recuperação para presidiários no Jardim Noroeste, em Campo Grande, mobilizou moradores, preocupados com a proximidade do terreno destinado ao espaço e área urbana do bairro. Presente em sete estados e no Distrito Federal, o unidade pretende auxiliar detentos na ressocialização e capacitação profissional, estando previsto o acolhimento inicial de 40 mulheres na primeira unidade da Capital.

Uma nota de repúdio chegou a ser produzida por representantes de bairros da região e, segundo o responsável pelo documento, a ideia de trazer o serviço para Campo Grande precisa ser respeitada, porém, o local escolhido para a construção da sede não foi o ideal.

"Nós queremos solicitar apoio dos vereadores e verificar a possibilidade deles segurarem o processo. Temos uma política nacional que determina quais devem ser as situações dos presídios e uma das exigências é que eles não podem estar próximos de áreas urbanas, pois existem locais muito mais apropriados para este tipo de empreendimento", afirmou o advogado e morador Charles Altounian, de 42 anos.

 

Mesmo entre os moradores que ainda não estão totalmente por dentro de como funcionará o projeto, é visível a preocupação para que a segurança no local não seja afetada. "Já convivemos diariamente com medo, pois há circulação de muita droga e usuários. Se instalarem um espaço como esse pode atrair ainda mais a criminalidade, aumentando a insegurança de todos", comentou a dona de casa Eliane Nantes Vasquez Cânepa, de 54 anos.

Para o presidente do Conselho de Segurança Pública do Jardim Noroeste e Região, Carlos Henrique Faustino Rosa, esta será mais uma batalha. "Já lutei contra a instalação da Colônia Penal Agrícola e contra a instalação da Cidade de Deus nessa mesma área. Tudo o que "não presta" eles querem trazer para o Noroeste. Por que não instalam na Gameleira, onde tem espaço sobrando?", questionou.

O projeto - Ainda não há previsão para construção da primeira Apac da Capital, mas um projeto da prefeitura de Campo Grande busca autorização para doação do terreno onde está prevista a construção do espaço. O pedido de doação foi feito por parte de representantes da associação que trabalha desde outubro do ano passado para implementação do projeto.

Uma das voluntárias responsáveis pela ação, a defensora pública aposentada Helita Barbosa Lemos, de 73 anos, garante que não motivos para que os moradores sintam medo. "Não há porque alguém ter medo ou achar que vai desvalorizar a região, pelo contrário, é um método maravilhoso para acabar com o sistema prisional", afirmou.

Segundo ela, a intenção é que os detentos atendidos, principalmente as primeiras 40 mulheres previstas para fazer parte do projeto, participem de cursos de capacitação e sejam acompanhadas de perto por familiares. "Vão existir regras e, principalmente, requisitos para escolha das detentas. Não é qualquer pessoa que vai fazer parte do projeto. Uma das exigência é que a pessoa tenha familiares morando no município, para garantir que eles vão fazer parte do processo de ressocialização", garantiu a voluntária.

Estão previstos cursos de marcenaria, confeitaria, produção de bonecas, música, cuidados com hortas e criação de galinhas. Das 121 unidades instaladas pelo país, 81 estão localizadas em Minas Gerais, 19 no Paraná, 8 no Maranhão, 3 em Roraima e 2 no Rio Grande do Sul. Mato Grosso, Santa Catarina e o Distrito Federal possuem uma unidade cada. Os voluntários também estão correndo atrás de parcerias para garantir que os atendidos voltem a estudar.

Ainda segundo a responsável, as atividades ocuparão o tempo das reeducandas, desde o café da manhã - que será produzido por elas - até o fim da noite, por volta das 22h. Voluntário do projeto, o vereador André Salineiro afirmou que estudos serão levantados antes de definir o local exato para construção da sede da associação.

"O trabalho da Apac é maravilhoso! É claro que vamos conversar para ver qual a melhor área e se há outras áreas disponíveis que podem ser cedidas, caso realmente cheguemos à conclusão de que essa não seria a melhor área", afirmou o político por meio de sua assessoria de comunicação.