Vítimas dizem que nunca mais pensam em pegar carona e um deles usou redes sociais para fazer desabafo. O outro gravou vídeos relatando o acidente em MS.

Condutor oferece carona para 2 por WhatsApp e passa direção ao filho:
Capotagem em carro feriu 4 pessoas em MS e jovem afirma que não quer mais pegar carona. / Foto: Thiago Garcia/Arquivo Pessoal

As caronas já faziam parte da rotina do fotógrafo Thiago Garcia, de 28 anos, que mora em Jardim, a 217 km de Campo Grande. Desde quando iniciou o curso de relações internacionais e os grupos oferecendo viagens mais baratas começaram a "bombar", ele usava o serviço para o vai e vem da faculdade.

Mas, há 3 dias, a experiência quase terminou em tragédia e ele usou as redes sociais para divulgar o que considera uma "grande irresponsabilidade", ao ver o motorista passar o carro para o filho sem Carteira Nacional de Habilitação (CNH).

"Eu ia fazer o meu passaporte e estava com horário marcado às 10h, na Polícia Federal, em Campo Grande. Eu usei os grupos de carona no WhatsApp e, bem rápido, uma pessoa ofereceu para sair às 4h. Eu achei cedo, mas, pensei que seria bom porque daria tudo certo e eu não me atrasaria no meu compromisso. Ao chegar, o pai estava na direção e o filho no banco do passageiro. Eles foram bem educados e avisaram que a gente ia passar em Guia Lopes e pegar outra pessoa", comentou ao G1 Thiago.

Ao chegar, o outro passageiro, o cabeleireiro Felipe Barbosa Guerreiro, de 25 anos, sentou no banco traseiro e seguiram viagem. "Eu coloquei o fone de ouvido e cochilei algumas vezes, não sou muito de ficar puxando conversa, só se a pessoa falar mesmo. Eu só percebi que, ao amanhecer, eles pararam o carro uma vez e dirigiam muito acima da velocidade, entre 120 a 140 km/h. Eu imaginei que um deles tinha algum compromisso e por isso estariam apressados, até aí tudo bem. Só que depois pararam novamente e trocaram de lugar", relembrou o fotógrafo.

Desde então, o jovem falou que, mesmo com o fone de ouvido, percebeu roncos dentro de carro e viu que era o pai no banco do passageiro, "visivelmente cansado". "O ar do carro estava ligado, ficou bem frio e eu consegui cochilar novamente, só que acordei com o carro virando já, como se tivesse encostando. Eu segurei bem firme no banco e percebi que o carro capotou duas vezes, caindo em um barranco. Foi só aí que eu me toquei que era um acidente, o carro parou de lado e eu percebi que meu óculos tinha feito cortes em meu rosto", disse Garcia.
 
O jovem então conseguiu descer do carro e constatou que o pai gritava muito. "Na adrenalina eu levantei e a rapaz do meu lado também. Eu falei pro motorista ir socorrer o pai dele e a nossa sorte é que um motorista logo atrás presenciou o acidente e chamou socorro. Uns 15 minutos depois, chegou o Corpo de Bombeiros e o Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu). Nós fomos para o hospital em Sidrolândia, eu tomei medicação, levei 7 pontos no rosto e fui o primeiro a ter alta médica", comentou.

Conforme o fotógrafo, a polícia também foi ao hospital e fez interrogatórios. "Lá no hospital eu soube que o outro rapaz que pegou carona teve cortes e o pai estava em estado mais grave, pois, precisou ser transferido para Campo Grande por ter fraturado a bacia. Ele parecia agonizar de dor. E foi lá com os policiais que eu soube que o rapaz que estava dirigindo não tinha habilitação e assumiu que tinha cochilado no meio de um curva. Os parentes deles chegaram depois e um cunhado me levou para Campo Grande. Primeiro fiquei com medo, mas, me mantive calmo", disse.

Desde então, o fotógrafo disse que não teve mais contato com os envolvidos. "Eu pegava carona há pelo menos 5 anos, desde quando morava em Dourados. Agora, a lição é que não dá mais pra confiar em todo mundo. Foi até por isso que eu usei o grupo e o meu Facebook para fazer um alerta. Acho que foi muita irresponsabilidade do pai em passar a direção sabendo que o menino não tinha carteira. A pessoa se oferece carona está assumindo a responsabilidade, então, deve descansar bem. Poderia ter sido pior, poderia ter sido uma tragédia, foi de uma responsabilidade tremenda e agora eu só ando de van ou ônibus", argumentou.
 
No caso do Felipe, a viagem era de retorno para a capital-sul-mato-grossense. "Meus pais moram em Guia Lopes e eu fui visitá-los. Eu já ia chegar e atender meus clientes, quando o acidente aconteceu. Tive um corte um pouco profundo, foram 10 pontos que eu levei na perna. Quando houve a troca da direção, pensei que o filho tinha domínio, pensei assim: a pessoa sabe o que está fazendo. Só que lá no hospital eu soube também que ele não tinha a CNH, estava em processo somente. Foi um acidente grave e a gente se assusta por conta da imprudência, colocando a própria vida em risco", lamentou.

De acordo com Guerreiro, a intenção agora é somente pegar carona com pessoas conhecidas. "Eu até que me mantive calmo, é engraçado, depois que a gente passa por algo do tipo começa a repensar a vida, querendo ou não foi um acidente grave. Eu vi a postagem do Thiago, várias pessoas me marcaram também e eu até que me mantive calmo, chegando a fazer vídeos para mandar para minha patroa", finalizou.