A cena é sempre a mesma: o bebê acorda na madrugada, chora, não consegue dormir e vem a pergunta quase que imediata: Será que é fome? Logo se oferece o leite (materno ou artificial) ele mama bastante e já adormece no colo da mãe ou do pai.
Passados duas horas ele acorda novamente e o leite permite mais algum tempinho de sono para toda a família.
A pergunta que não se cala é: até quando é uma possibilidade o bebê ser alimentado de madrugada? Prestem atenção: a pergunta não é, até quando se sente fome no meio da noite? Esta última é diferente.
Até um adulto pode acordar com fome (ou despertar e reparar que quer comer alguma coisa), no entanto é uma opção acordar ir à cozinha fazer um lanchinho? Todas as noites? De hora em hora? Imaginem as consequências?
De um modo geral, o bebê até os cinco ou seis meses é normalmente alimentando somente por leite materno ou artificial. Até esta fase ainda necessita mamar de tantas em tantas horas conforme orientação médica.
A tendência, com o passar dos meses, é ele conseguir ir aumentando gradativamente o tempo de intervalo entre as mamadas.
Por exemplo: no primeiro mês de vida a alimentação pode ser livre demanda, depois de 3 em 3 horas, por volta dos quatro – cinco meses de 4h em 4 horas e após a introdução dos alimentos sólidos, durante a noite, o bebê já se torna capaz de conseguir dormir a noite inteira visto que, todos os nutrientes de que precisa para crescer e se desenvolver, agora são obtidos ao longo do dia. Mas, se ele acordar e estiver com fome?
A resposta será na mesma linha, se a mãe acordar com fome de madrugada? Antes de responder vamos pensar primeiro qual é a prioridade nesta hora da noite: Dormir ou comer?
Durante o primeiro ano de vida, o bebê passa muitas horas do seu dia dormindo. No sono, o cérebro apresenta uma intensa atividade, com um importante impacto em todas as funções da criança, incluindo o desenvolvimento cognitivo e psicomotor.
Segundo pesquisa publicada no Jornal Médico Britanico*, e divulgado pelo Huffignton Post, descobriu-se que há uma relação entre o padrão de sono com desenvolvimento cognitivo das crianças.
No estudo chamado Millennium Cohort, que contou com 11 mil participantes, observou que as crianças que tinham horários irregulares para dormir até os três anos foram as mais afetadas quando se tratava das habilidades para leitura, matemática e de percepção especial.
Os pesquisadores concluíram que os três primeiros anos de vida são um momento particularmente sensível para o sono e sua relação com o desenvolvimento do cérebro.
O sono é uma necessidade fisiológica básica para o crescimento do corpo, recuperação e revitalização física, amadurecimento cerebral, aprendizado e memorização.
Um bebê acima dos seis meses, que acorda várias vezes à noite para mamar, tem o seu sono interrompido e a privação de sono, quando crônica ou prolongada, pode levar à exaustão, ao dano físico de tecidos corporais, a disfunções no sistema imunológico, além de todo o profundo estresse nele mesmo e no seus pais.
O hormônio do crescimento, responsável pelo crescimento físico do bebê, é liberado principalmente durante os estágios de sono profundo. Uma disfunção séria no sono pode, portanto, levar à liberação insuficiente desse hormônio, comprometendo o amadurecimento corporal.
Levando em conta todos estes aspectos, independente se o bebê acorda por fome ou necessidade de “mamar para nanar” isto precisa ser resolvido no curto prazo levando em conta que à noite a prioridade é um sono reparador e não hora de fazer lanchinhos. Antes de mais nada, o médico deverá ser consultado para avaliar o bebê e analisar as suas dificuldades de sono.
Se for fome está questão será revista na alimentação do bebê ao longo do dia e se for hábito existem profissionais capacitados “Consultores de Sono” para ajudar às famílias a alterar esta associação de sono- mamar para nanar e passar a ser nanar para … crescer, desenvolver, amadurecer e sonhar!
Debora Moss é psicóloga, especialista em Neuropsicologia, mestre em Psicologia do Desenvolvimento pela USP e consultora do sono de bebês e crianças.