Apesar do orçamento de 670 milhões, UFMS enfrenta problemas antigos
Campus da UFMS em Campo Grande / Foto: Marina Pacheco

Obras atrasadas, falta de estrutura nos prédios, de material básico para trabalhar, necessidade de democratização da decisão e combate efetivo à evasão, são alguns dos desafios a serem enfrentados pelo reitor Marcelo Turine, que está há 12 dias no comando da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). A lista de problemas é apontada por acadêmicos, professores e servidores.

A universidade tem vagas para 15 mil estudantes em 11 campi, 102 cursos de graduação, 50 de pós-graduação e conta com R$ 670 milhões da União para custeio e investimentos previstos para 2017, a quarta maior receita do Estado.

Para estudantes e funcionários não faltam recursos, mas falta gerir bem o orçamento e problema crônicos para resolver. Os acadêmicos reclamam que demandas antigas vão sendo empurradas com a barriga pelos reitores.

A construção de alojamentos, investimento maior nas políticas de bolsas, a criação de uma creche e a abertura do Restaurante Universitário durante a noite são exemplos. “A evasão é um problema grave. Falta estímulo, estrutura para o estudante permanecer na universidade. Eu estou saindo, mas espero ver isso mudar”, afirma o acadêmico do 4º ano de Economia, Renan Araujo, de 23 anos.

O Relatório de Gestão de 2015 da UFMS mostra que dos 15,6 mil alunos matriculados no ano passado, ao menos 5,3 mil abandonaram o curso, taxa de 34%. Um dos motivos, segundo os acadêmicos, é a dificuldade financeira que estudantes enfrentam para se manterem na Capital. O aluguel no entorno da universidade, por exemplo, custa ao menos R$ 500.

José Elias, estudante de Biologia que integra a diretoria do DCE (Diretório Central de Estudantes) da universidade, afirma que quem tem a bolsa-permanênca oferecidas pela UFMS acaba gastando todo o dinheiro com o aluguel. “Depois do Sisu [Sistema de Seleção Unificada] muita gente de outros Estados veio estudar aqui. Mas, o aluno não paga só o aluguel, tem de se alimentar, precisa de internet. Por isso, a gente defende a construção de moradias estudantis, melhoras no restaurante”.

Professores – No dia 25 de julho deste ano, a Adufms (Associação dos Docentes da Fundação Universidade de Mato Grosso do Sul) entregou documento contendo 51 reivindicações da categoria para os candidatos à Reitoria e de acordo com a presidente da entidade, Mariuza Aparecida Camillo Guimarães, todos os pleitos serão cobrados de Turine.

Os docentes – são entorno de 1,3 mil concursados e mais 500 contratados – dividem os problemas em cinco categorias: democratização da gestão, transparência na aplicação dos recursos, infraestrutura, trabalho docente e políticas estudantis.

Particularmente, Mariuza, que é professora do curso de Pedagogia, dá destaque para a falta de infraestrutura. Durante a posse do novo reitor, Célia Maria de Oliveira, que comandou a UFMS por oito anos, destacou que construiu novos blocos, ampliou salas. “Foram 62 mil metros quadrados de novas construções”, disse a então reitora.

Contudo, para a presidente da Adufms reformas necessárias não foram feitas. “Construiu-se muito, mas o que já existia está depredado, fizeram obras em detrimento da manutenção”.

Ela conta que a estrutura, no campus de Campo Grande, por exemplo, é tão precária que professores correm risco de sofrerem acidentes de trabalho. “A tela de projeção quase caiu na minha, no ano passado. eu puxei a tela e quando virei para falar com os alunos, dei meio passo e a tela caiu”.

O bloco chamado de “shopping” pela comunidade acadêmica é considerado um dos piores. No local, a reportagem encontrou bebedouros com defeito, banheiros inutilizados, carteiras quebradas e aparelhos de ar-condicionado acumulados nos corredores.

Alunos afirmam que há salas que precisam ser interditadas quando chove por conta da quantidade de goteiras. Fora isso, afirma a presidente da Adufms, algumas delas não comportam o número de alunos de determinados cursos. “A gente vai trabalhando no improviso”.

O curso de Medicina, por exemplo, tem turmas com 80 alunos, que tem de se apertar em espaços – salas e laboratórios – com capacidade para 50 pessoas.

Renan lembra que o “multiuso”, bloco inaugurado na cidade universitária da Capital há um ano e meio, já tem problemas. “Tem muita infiltração já, paredes rachadas”.

Márcio, presidente do Sista-MS (, também fala da falta de infraestrutura. “Falta a manutenção permanente nos setores – troca de lâmpadas, maçanetas. A universidade está sucateada”.

Atraso – Uma das obras iniciada no campus da Capital está atrasada. Trata-se do bloco que abrigará o curso de Nutrição. O prédio que custará R$ 4,1 milhões em recursos do governo federal deveria ter sido entregue em setembro deste ano.

O representante dos cerca de 3 mil técnicos que trabalham na UFMS destaca que auditórios que começaram a ser construídos no campus da Capital também não foram terminados. “No interior, os campi foram ampliados, mas tem espaços que estão fechados porque o mobiliário, equipamentos não foram entregues. Não vai ser fácil, o reitor vai ter muito trabalho”.

Palavra do reitor –Marcelo Turine afirma que o atual momento é de levantar as demandas, prioridades, recursos e obras em andamento. “São algumas obras, a maioria já tem investimento e empenho garantido para finalizar ano que vem”, disse.

Citou como exemplo o prédio da faculdade de Medicina, cuja reforma já tem orçamento previsto, e a própria reforma do Restaurante Universitário, que, segundo o reitor, será feita em quatro fases, das quais a primeira está em execução e a segunda em licitação. Sobre o refeitório funcionar à noite, o reitor reconheceu que é uma das demandas, mas que tudo depende do levantamento e planejamento para o próximo ano.

Em relação à evasão, que, segundo o próprio reitor, chegaria a ser de 5 mil acadêmicos, a ideia é buscar parcerias com as prefeituras para que evitar que os acadêmicos que vem de outras cidades desistam da faculdade por não ter condições de se bancar.

Até agora, o que tem de garantido é o recurso de R$ 14 milhões para bolsas estudantis de acadêmicos de outras cidades, em 2017. A verba é do MEC (Ministério da Educação). “Mas vamos viabilizar estas estruturas [casas], mas em parcerias com os governos municipais e estadual. Estamos articulando, conversando com os gestores eleitos, para dedicar espaço físico e como podemos fazer isso”.

Turine falou sobre aumentar estágios curriculares para os alunos, também como forma de evitar a saída de alunos da faculdade.