Trancado numa casa em Los Angeles, Anderson Silva só tem atendido a alguns poucos telefonemas de amigos e parentes. Ele ainda não sabe como reagir aos dois exames que apontaram a presença de substâncias proibidas no seu sangue e urina. Só sabe que deve evitar uma guerra jurídica contra a Comissão Atlética de Nevada para conseguir uma pena leve.

Anderson não pretende abandonar o MMA depois de ser flagrado no antidoping, como especula a imprensa. O atleta que beira os 40 anos de idade espera ser condenado a uma pena mínima de seis ou nove meses de suspensão para voltar a lutar até o fim do ano. Se for suspenso por mais de um ano, ai sim pode ser o fim de carreira do brasileiro mais bem sucedido da história do UFC. 

Apesar de ainda jurar de pés juntos que não se dopou, Anderson não se sente confortável de dizer isso em publico. Sabe que estaria comprando uma briga perdida contra um laboratório que pertence ao governo dos Estados Unidos e com a Comissão de Nevada responsável por regulamentar a luta do último dia 31, contra Nick Diaz.

Anderson pode ficar até dois anos sem licença para lutar nos Estados Unidos. Ele tem sido aconselhado a fazer uma coletiva de imprensa o quanto antes para explicar o doping. Só resta ao ex-campeão peso-médio do UFC alegar que ingeriu as substâncias proibidas durante algum tipo de tratamento para recuperar a perna fraturada há um ano e um mês.

- Se para um atleta em inicio de carreira seria difícil voltar à ativa depois de uma lesão tão traumática, imagina para um veterano que completa 40 anos em abril?, - pergunta uma amiga do lutador.

O ponto final na carreira do maior mito do Brasil no MMA seria com uma ou duas honrosas vitórias depois de cumprir a suspensão, sonha Anderson. Amigos próximos que olharam nos olhos de Anderson dizem que ele tem enchido o peito para afirmar e reafirmar que não usou esteroides ou qualquer outro tipo de substância proibida. Um desses amigos não consegue acreditar na hipótese de ele estar mentindo.

O primeiro exame que acusou doping foi realizado em 9 de janeiro e detectou os anabolizantes androsterona e drostanolona. No exame do dia 19, nada de irregular foi encontrado. Dia 31, depois de derrotar Diaz, ele testou mais uma vez positivo para substâncias proibidas. Anderson não entende como testou negativo dia 19 e positivo dia 31. Se dopar entre esses dois exames seria pedir para cair no antidoping, acredita o lutador que nunca antes em 17 anos de carreira tinha sido acusado de se valer de anabolizantes.

Anderson está a procura de um advogado de defesa americano. Quem sabe não segue o exemplo de Vitor Belfort e contrata Michael Alonso, um especialista em defender atletas flagrados no antidoping. Ele nunca esteve tão abatido e recluso. Mas não vai desistir de mais essa briga. Fará de tudo para limpar o nome. Só não topou contratar uma empresa americana que gerencia imagem em hora de crise. Cobraram uma fortuna para ajuda-lo no caso de doping e ele preferiu seguir nessa sozinho.

O UFC é um evento destruidor de reputações, diz Anderson entre amigos. Em vez de ser apontado como um dos competidores mais versáteis do esporte, ele teme carregar consigo a imagem de um atleta que pode ter realizado incríveis feitos no octógono sob efeito de bombas.

Se Anderson algum dia confessar o doping, ele assumirá publicamente a quebra do código de luta que ele mesmo estabeleceu enquanto representante mundial da modalidade. Anderson sempre foi crítico ferrenho da Terapia de Reposição de Testosterona e do uso de drogas com o objetivo de melhorar a performance.

Por ironia do destino, ao ceder às pressões das correntes que exigem maior controle do uso de drogas, o UFC estabeleceu política de testes fora do período de competição e viu não somente Anderson como também Jon Jones – dois dos maiores nomes da organização – serem pegos em flagrante. Em um ano em que se esperava grandes lutas de retorno de uma lenda e defesa de cinturão, testes surpresas mancharam as biografias de Anderson e Jones com anabolizantes e cocaína.