A paz, segundo o prelado, não significa ausência de conflitos inerentes à vida cotidiana, mas é esperança e caminhar confiante na realização da própria vida.

"A política é um instrumento para promover a paz" defende dom Pedro Cipollini
/ Foto: CNBB

Em artigo, o presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Doutrina da Fé da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Pedro Carlos Cipollini, bispo de Santo André (SP), fala da política como instrumento para promover a paz.

A paz, segundo o prelado, não significa ausência de conflitos inerentes à vida cotidiana, mas é esperança e caminhar confiante na realização da própria vida.

No texto, dom Pedro comenta a Mensagem do papa para o Dia Mundial da Paz, no primeiro dia deste ano.

O bispo lembra que Jesus ao enviar em missão seus discípulos, disse-lhes: "Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: "A paz esteja nesta casa!" (Lc 10, 5-6). "Oferecer a paz está no coração da missão dos discípulos de Cristo.

E esta oferta é feita a todos os homens e mulheres que, no meio dos dramas e violências da vida, apostam na paz", disse.

A política, defende o bispo, é um meio fundamental para construir cidadania e as obras do homem, mas, quando aqueles que a exercem não a vivem como serviço à coletividade humana, pode tornar-se instrumento de opressão, marginalização e até destruição.

Dom Pedro recorda que o papa Francisco assinala que somente é bom político quem serve aos interesses da população.

"Tomar a sério a política, nos seus diversos níveis – local, regional, nacional e mundial – é afirmar o dever do homem, de todos os homens, para procurarem realizar juntos o bem da cidade, da nação e da humanidade. E isto é caridade", escreveu.

A função e a responsabilidade política, para dom Pedro, são um desafio permanente para todos que recebem o mandato de servir o seu país, proteger as pessoas que habitam nele, trabalhar para criar condições dum futuro digno e justo onde se respeita a vida e dignidade de cada um. "Todas as pessoas, em especial os cristãos, são chamados a esta ‘caridade política’", reforçou.

Quando o empenho pelo bem comum é animado pela caridade, tem uma valência superior à do empenho simplesmente secular, do político profissional.

Política e caridade
O religioso defende que a ação política que se inspira na caridade é um programa no qual se pode reconhecer todos os políticos honestos, de qualquer afiliação cultural ou religiosa, que desejam trabalhar juntos para o bem da família humana.

"A política exercida na caridade pratica as virtudes humanas que caracterizam uma boa ação política: a justiça, a equidade, o respeito mútuo, a sinceridade, a honestidade, a fidelidade", concluiu.

Dom Pedro lembra que cada renovação nos cargos eletivos, cada período eleitoral, cada etapa da vida pública constitui uma oportunidade para voltar à fonte e às referências que inspiram a justiça e o direito.

"Duma coisa temos a certeza: a boa política está ao serviço da paz; respeita e promove os direitos humanos fundamentais e é exercida como caridade, ou seja, um modo de praticar o bem", disse.

O religioso fala também dos vícios na política que enfraquecem a vida democrática autêntica. Ele enumera alguns: a corrupção, a negação do direito, a falta de respeito pelas regras comunitárias, o enriquecimento ilegal, a tendência a perpetuar-se no poder. "A paz é fruto dum grande projeto político, que se baseia na responsabilidade e na solidariedade.

Mas é também desafio que requer ser abraçado cada dia. A paz é uma conversão do coração e da alma", concluiu.