A introdução da bebida alcoólica na vida precoce das nossas crianças e adolescentes começa quando elas veem seus próprios pais ingerindo bebida dentro de casa.

Não ao álcool

Wilson Aquino

O envolvimento de pessoas com o consumo de bebidas alcoólicas tem sido intenso na sociedade brasileira, com um agravante de arrepiar: a idade precoce das vítimas. Meninos e meninas com até 10, 11, 12... anos têm entrado no mundo das bebidas, provocando um agravamento ainda maior desse problema social que cresce a cada dia no país.

O problema é sério e tem corroído as famílias ao longo dos anos, décadas, sem que as autoridades se deem conta da gravidade do assunto, para enfrentá-lo de frente, em apoio ao apelo e ao socorro  de pais e mães que vêm  pedindo há muito tempo.

Estão ali os primeiros “ensinamentos” que os pais dão aos próprios filhos, por intermédio do exemplo. Quando ingerem bebidas nas mais variadas ocasiões comemorativas como festas de aniversário, casamento, nos churrascos de final de semana e até como esse período que acabou agora, das competições esportivas da copa do mundo de futebol, os pais acabam “doutrinando” os filhos para seguirem seu caminho no consumo de bebidas nocivas à saúde física e mental do próprio indivíduo.

O brasileiro é assim, alegre e tudo comemora. Faz parte de sua cultura. Mas quanto à ingestão de bebida alcoólica deveria ponderar melhor e olhar ao redor para não dar maus exemplos, especialmente aos filhos, crianças e adolescentes. Em muitos desses ambientes a bebida é venerada e conta com ambientes especiais como adegas, bares na sala de estar, onde garrafas e mais garrafas estão sempre à disposição a qualquer hora de quem quer que seja.

Enfim, mesmo diante de crianças, o brasileiro não se inibe para comemorar com bebida alcoólica. Até mesmo quando chega em casa, depois de um dia exaustivo de trabalho, não dispensa um “drink” para desestressar. O problema está naquilo que não vê. Aquilo que acaba ensinando sem ensinar conscientemente aos menores que, mais cedo ou mais tarde, também trilharão por esse caminho do consumo de bebida, quando se depararem com os primeiros atritos e conflitos naturais do crescimento e amadurecimento do ser humano.

O consumo de álcool por menores começa de maneira sorrateira, bem escondida, quase imperceptível pelos ocupados pais, até que se torne um problema maior, com a instalação do vício.

Depois da “descoberta” da bebida e seus efeitos, a criança e o adolescente podem fazer proliferar esse vício quando contam aos amiguinhos sobre as sensações que tiveram. Partem juntos rumo a esse caminho perigoso e muitas vezes sem retorno.

Pais displicentes pagam caro depois, na luta para tentar reverter o vício que enraizou em seus filhos com todas as mazelas e consequências físicas e mentais.

Pais displicentes realmente subestimam a capacidade dos filhos de absorver também maus hábitos por eles próprios praticados dentro do próprio lar.

Assim como a bebida, pais podem “transmitir” outros maus exemplos que podem influenciar na formação da vida de futuros cidadãos, como por exemplo, fumo, drogas, atos de violência; uso de palavrões; brigas constantes em família, discussões e outros. Por isso é preciso muito cuidado com o que ensinamos direta ou indiretamente às crianças que estão ao nosso redor.

Beber em casa, na frente dos filhos, realmente é um péssimo exemplo. Não basta também beber lá fora, se traz para dentro de casa as consequências da embriaguês.

O Governo também se mostra indiferente e incompetente no trato do assunto. Não faz o que deveria. Prefere tratar a questão na ponta, quando o vício e suas mazelas já estão entesourados no indivíduo. Deveria fazer trabalhos preventivos e campanhas educativas voltadas às famílias.

Além disso, assim como fez com o cigarro há muitos anos, o governo já deveria, há muito tempo também, ter proibido toda e qualquer propaganda de bebida alcoólica no Brasil, para evitar sua disseminação incontrolada na sociedade.

Todos sabem os males da bebida, mas poucos ousam se levantar contra ela. E nesse ano eleitoral, fico pensando quem teria coragem para empunhar essa bandeira para se  por um freio nessa exposição escancarada da bebida a todas as idades no Brasil.

*Jornalista e Professor